São Paulo (AUN - USP) - “Nós estávamos acostumados ao professor de Língua Portuguesa tratando de gramática. Hoje não é assim”. A fala é de Neide Luzia de Rezende, professora do Departamento Metodologia do Ensino e Educação Comparada da Faculdade de Educação da USP. O currículo de Língua Portuguesa entre práticas escolares e orientações oficiais é o tema do VI Seminário de Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa, que acontece de 31 de outubro a 1° novembro na Faculdade. As inscrições para observadores estão abertas até o dia 30 de outubro, terça-feira, custando 30 reais. Os estudantes da graduação da USP pagam 20. Sob o guarda-chuva do currículo, o seminário concentra as mais diversas abordagens – que vão da psicolingüística à sociologia da educação, passando pela literatura. Um dos principais objetivos é indicar novas abordagens: por exemplo, o entendimento do ensino da língua materna como uma ação sócio-cognitiva.
A mistura não é gratuita e os motivos são claros. Para Neide, no próprio momento de formação dos professores nas faculdades considera certa diversidade temática: “O professor de Língua Portuguesa tem, na formação dele, interesses diversificados e no ensino da Língua esses enfoques estão presentes”. A especialidade do professor de português, segundo ela, deve, sim, se debruçar sobre a língua, mas os enfoques de ensino podem ser os mais amplos: “Você tem que pensar numa dimensão lingüística, comunicacional, de conhecimento”. Nesse sentido, a montagem do currículo necessariamente se prende a esta variedade e, portanto, o seminário não poderia ser simplesmente de aplicação de cada um destes campos ao ensino e aprendizado do português.
Neide lembra, para dar um exemplo, que já na interpretação dos textos deve estar colocada uma visão que vai além do formal, pois existem, pelo menos, duas práticas dos textos: as escolares e a social. Ela dá o exemplo do uso da notícia em sala de aula: a professora não analisa só as estruturas gramaticais, mas também as sociais, as culturais, “todas as dimensões implicadas naquele gênero que é a notícia”. Daí é compreensível o que ela chama de perspectiva sócio-interacionista sobre os conteúdos em Língua Portuguesa – que consideram justamente as relações estabelecidas entre os jeitos do aluno ler, falar e conhecer o mundo desenhado pelo uso da língua.
Foi a sensibilidade dos organizadores aos problemas e demandas do ensino nas escolas que motivou a escolha desta temática. A professora Neide, que faz parte da equipe que leva o evento a cabo, explica: “Já nos outros seminários a gente considerou a necessidade de fazer essa articulação entre a licenciatura, a prática de ensino e os professores da rede básica que poderiam tomar contato com as reflexões, as pesquisas que se fazem na universidade”. Segundo ela, o seminário é parte de um movimento eminente na graduação, mas especialmente atrelado à noção de cultura e extensão. Essa necessidade de juntar teoria e prática, segundo Neide, é uma tendência que oxigena a produção universitária, mas, principalmente, auxilia na formação de uma nova maneira de conhecer e pensar o ensino da língua materna – inclusive pelos professores que vêm de outras unidades da USP.
A participação de professores das redes básicas (pública e privada) é notadamente mais expressiva entre aqueles que já participam de grupos de formação da FEUSP ou estão matriculados nos cursos de pós-graduação e nas disciplinas de Língua Portuguesa da Faculdade. Nestas últimas, há uma reserva de cinco a dez vagas para professores da rede todos os semestres, lembra Neide. Ainda assim, a professora considera que "a Faculdade de Educação tem uma relação bastante próxima com os professores e programas de educação" e que o retorno por parte deles é considerável. Prova disso talvez seja o aumento de trabalhos inscritos para esta edição. O evento, que Neide considera pequeno, já conta com 90 comunicações (trabalhos inscritos para apresentação), número recorde tendo em vista o histórico dos seminários anteriores - em que se registravam de 30 a 60.