ISSN 2359-5191

25/05/2000 - Ano: 33 - Edição Nº: 07 - Ciência e Tecnologia - Instituto Oceanográfico
Cientistas se unem para investigar fenômeno oceânico

São Paulo (AUN - USP) - Pesquisadores de diversas áreas científicas unirão esforços a partir de agosto para estudar o fenômeno da "ressurgência de Cabo Frio", no qual periodicamente uma massa de água fria rica em nutrientes atinge a superfície do litoral sudeste brasileiro. Este projeto, conhecido como Deproas (Dinâmica do Ecossistema da Plataforma da Região Oeste do Atlântico Sul), conta com 12 cientistas do IOUSP (Instituto Oceanográfico da USP) e dois do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que irão revezar-se em pesquisas de campo para avaliar sua origem, trajetória em direção à costa, composição química e impacto no ambiente marinho.

O coordenador-geral do Deproas, Belmiro M. de Castro, afirma que esta massa de água é tão importante para o ecossistema oceânico quanto o adubo para as plantas. "Sua presença cria condições ideais para o desenvolvimento da cadeia alimentar". O problema é que, na maior parte do ano, esta massa de água permanece submersa na região conhecida como talude continental, onde seu potencial nutritivo não é aproveitado porque a luz do sol não atinge tal profundidade – entre 300 e 400 metros abaixo da superfície. Sem energia solar, as micro-algas, que se alimentam dos nutrientes e dão início à cadeia alimentar, não podem realizar fotossíntese.

A ressurgência ocorre principalmente no verão, devido à natureza das correntes de vento nesta estação do ano e, ao fertilizar parte da costa brasileira, representa um grande estímulo para a atividade pesqueira. Outros países que também sofrem fenômenos semelhantes são líderes mundiais de produtividade de pescado. O maior exemplo é o Peru: a ressurgência peruana é tão importante economicamente que, durante o El Niño, a renda nacional sempre entra em colapso, pois as alterações climáticas deste período impedem que a massa de água fria nutritiva alcance a superfície. Algo similar, mas em menor grau, também ocorre no Brasil, como comprovou Yasumobu Matsuura, o responsável por este ramo de pesquisa no Deproas. Seus estudos indicam que, nos verões em que a ressurgência ocorre com menos força, a captura de sardinhas é sempre menor.

O governo federal, através do Pronex (Programa de Núcleos de Excelência), destinou cerca de US$ 2,3 milhões para o Deproas. Parte da verba já foi utilizada na reforma do navio-laboratório e na compra de instrumentação tecnológica avançada. O restante será consumido na operação das pesquisas de campo: cerca de 300 dias de navegação com custo total em torno de US$ 600 mil. O projeto durará dois anos e cobrirá a área marítima que vai de São Sebastião, no litoral paulista, até Cabo Frio, no norte do Rio de Janeiro. "Cabo Frio tem este nome exatamente porque é o ‘epicentro’ da ressurgência desta massa de água gelada", explica Belmiro.

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