São Paulo (AUN - USP) - Um setor do Grupo de Estudo em Química Ambiental (GPQA) da Universidade de São Paulo vem há quase um ano e meio buscando alternativas para solucionar ou, ao menos, atenuar o problema da poluição das águas.
A pesquisa liderada pelo professor Renato Sanches Freire do Instituto de Química da USP procura meios mais eficientes para degradar a imensa quantidade de efluentes poluidores industriais e domésticos. Hoje, seu grupo debruça-se mais sobre estudos que buscam aumentar a eficácia de substâncias químicas que agem sobre a poluição.
Atualmente, o método mais usual serve-se do ataque biológico, utilizando microorganismos que se alimentem dos poluentes os quais se deseja eliminar. O problema é que o volume de materiais tóxicos lançados a todo momento na água é tão grande que o uso dessa técnica acaba não sendo suficiente.
Outro problema é que esse método é muito eficiente para materiais biodegradáveis, mas às vezes há compostos presentes nos efluentes que não existiam antes na natureza. É o caso de muitas substâncias resultantes das atividades de indústrias farmacêuticas. Esses materiais, chamados xenófagos, ou os microorganismos digerem muito lentamente ou simplesmente não digerem.
Levando isso em conta, o professor Sanches considera que o ataque químico é muito mais eficaz, pois sua ação é mais rápida e seu uso não é limitado a um tipo de poluição. Além disso, pequenas variações no meio ambiente modificam o comportamento mesmo de organismos simples como os utilizados na técnica biológica. Isso faz com que não se possa garantir a mesma eficiência de, por exemplo, uma determinada bactéria, em quaisquer condições. Já os agentes químicos não têm sua ação alterada, o que abre espaço para que seu uso seja mais abrangente.
Entretanto, o uso de materiais químicos degradantes ainda possui alguns empecilhos sobre os quais o GPQA atua. Um deles é que, por ser um método ainda em início de desenvolvimento, é mais caro que o biológico. Outro obstáculo enfrentado pelo laboratório são os materiais resultantes da reação de degradação. “Em alguns casos, os agentes químicos geram substâncias de toxicidade maior que a dos efluentes que se queria combater”, diz o professor.
Pesquisas nessa área ainda são incipientes, mas superados esses problemas, é provável que o ataque químico se torne muito mais eficaz que o biológico, embora os dois métodos possam trabalhar juntos. Existem materiais poluidores, por exemplo, que os microorganismos não degradam, mas substâncias químicas podem “quebrá-los” em fragmentos menores que são digeríveis. Com um bom desenvolvimento das duas técnicas, podem-se fazer combinações mais adequadas e baratas para cada situação.
O pesquisador esclarece, entretanto, que melhor que achar meios para despoluir a água seria diminuir a quantidade de resíduos nos processos industriais, o que exigiria alterações no modo de produção. Certamente, convencer as indústrias a arcar com essa modificação não é tarefa fácil, mas se pensarmos que somente 2,5% da água do planeta é doce e que ¾ dessa está em geleiras ou subsolos, é possível que algum esforço nesse sentido seja feito.