São Paulo (AUN - USP) - Avós que assumem a responsabilidade de criar seus netos e a relação de aprendizado mútuo entre eles foram tema de discussão do projeto Universidade Aberta à Terceira Idade, no Instituto de Psicologia da USP. O professor Paulo de Salles Oliveira, que coordenou a conversa, falou sobre o livro Vidas Compartilhadas – Cultura e Co-educação de gerações no Cotidiano, resultado de sua tese de doutorado pela Unesp, em 1993.
O livro apresenta depoimentos de cinco avós e de oito netos, todos transcritos na íntegra “para preservar a riqueza de cada um”, como Salles faz questão. A pesquisa realizada na periferia de Marília, interior de São Paulo, no início da década de 90, foi concebida de maneira bastante interessante. Nada de questionários preestabelecidos e entregues a centenas ou milhares de entrevistados. O professor não saiu pelos bairros pobres da cidade batendo de porta em porta, fazendo suas perguntas. A aproximação com os entrevistados se deu a partir de intermediários, principalmente alunos e funcionários da Unesp. Salles assinala a importância dessas figura: “o intermediário é alguém que conhece a mim e ao entrevistado”. “Quando o convite para participar da pesquisa é feito por alguém conhecido, as pessoas tem a liberdade de dizer sim ou não sem receios”, complementa.
Ele ressalta ainda a importância do envolvimento com o objeto estudado, neste caso as pessoas. “Primeiro eu os conhecia, depois fazia as entrevistas, e muitas vezes ainda voltava, o que dá muito mais trabalho do que pedir para que preencham um questionário, mas tem certas coisas que não eram respondidas com palavras, mas pelas atitudes”. “Eles me surpreenderam a cada entrevista e me despiram de uma série de preconceitos”, acrescenta e dedica um capítulo do livro a esse aspecto de seu trabalho: Avós e Netos na Reeducação do Pesquisador.
Os principais pontos assinalados pelo professor foram a incessante busca por uma relação democrática, desde que limites e diferenças sejam respeitados; a grande preocupação dos mais velhos em não cometer os erros que cometeram com seus filhos; os laços afetivos muito fortes e compartilhamento de pequenas coisas do cotidiano, dividindo alegrias e tristezas.
É fácil enxergar o que os avós teriam a ensinar a essas crianças, mas o que teriam a apreender com elas? Essa foi uma pergunta feita a Salles quando apresentava seu projeto de trabalho. Ele acredita ter resposta para a questão. “As crianças aprendem com a experiência dos avós, e eles se vêem diante de um novo desafio quando já não esperavam nada de novo da vida: educar e ser responsável por uma criança, o que reativa neles a vontade de viver e de aprender novas coisas”, destaca o professor. Segundo ele, uma coisa muito comum era o interesse dos avós em que os netos lhes ensinassem o que estavam aprendendo na escola, e que lhes trouxessem as “novidades da rua” quando dela vinham.