São Paulo (AUN - USP) - Redução do peso corporal, diminuição dos riscos de infarto, controle da pressão arterial, taxas de colesterol e glicemia (nível de açúcar no sangue)... Os benefícios proporcionados pela prática de exercícios físicos na terceira idade são incalculáveis. E não é só a imagem externa que melhora. As vantagens da prática da atividade física para a “cabeça” e para o bem-estar geral do idoso são visíveis segundo estudo realizado na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP.
“Além de adquirirem uma melhora nas capacidades físicas e funcionais, os idosos que participaram de um programa de exercícios físicos apresentaram um grande benefício afetivo que foi o ganho de auto-confiança”, afirma a pesquisadora Tiemi Okimura que acompanhou o processo de aprendizagem de idosos sobre os benefícios da atividade física, desenvolvido pelo Programa Autonomia para a Atividade Física (PAAF). Esse serviço de atendimento à comunidade idosa, criado pelo Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Educação Física para Idosos (GREPEFI), vinculado à EEFE-USP visava dar condições ao idoso para autogerir um programa de atividade física, sendo voltado para seu auto-cuidado. Um grupo de 42 pessoas, com idades acima de 60 anos, recebeu orientação sobre os exercícios mais adequados, bem como percepção corporal e discussão de temas ligados ao envelhecimento com qualidade de vida. “Outro efeito positivo apontado após 16 meses de treinos e aulas é o auto-conhecimento das próprias limitações. Os idosos sabem o que fazer para desfrutarem do bem-estar físico e da saúde”, conclui a pesquisadora.
A psicóloga e professora de Educação Física Ericka Santana, estudando o mesmo grupo, chegou à conclusão de que a imagem corporal dos idosos também muda. A mestranda, por meio de desenhos feitos pelos próprios idosos antes e depois do programa de exercícios, pôde perceber uma alteração da percepção que as pessoas tinham de si mesmas. “Após as atividades físicas, os indivíduos da terceira idade redescobriam seu potencial, notavam não só mudanças físicas, mas psicológicas, sentiam-se mais felizes. E essa interferência positiva na auto-imagem pode ser percebida pelos desenhos”, afirma.
Qualidade de vida
Além disso, o treinamento em grupo aumenta a sociabilidade (afinal, muitos idosos ficam reclusos em casa), a auto-estima e autoconfiança e, conseqüentemente, o bem geral dos atletas mais experientes. Um estudo recente do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas (SP) mostrou que há uma diferença significativa entre a qualidade de vida e os índices de atletas idosas e sedentárias. “Pesquisas mostram que idosos com 90 anos ou mais se beneficiam de exercícios. Os benefícios são visíveis não só na capacidade de subir escadas, andar, mover-se dentro e fora de casa, mas também na qualidade de vida, fazendo-o se sentir melhor e gostar mais de viver”, afirma Guilherme Turolla Sguizzatto, autor do estudo e médico geriatra da Faculdade de Medicina da USP.
“Não dá pra dizer o quanto eu mudei. Tudo hoje na minha vida é melhor. Tudo mesmo. Gosto de chegar no parque e as pessoas dizerem que eu sou melhor que muita gente jovem”, diz Augusto Trindade, 76 anos, integrante da Vovô Cops, um grupo de São Paulo que reúne cerca de 20 corredores acima de 60 anos.
Hoje, mais do que nunca, a atividade física passou a fazer parte de qualquer tipo de “prescrição médica” voltada à terceira idade. Não é à toa. “Um estilo de vida saudável, que inclui alimentação e a prática de exercícios, é capaz de prevenir doenças, retardar o “relógio biológico” do envelhecimento e dar um nova perspectiva de vida aos idosos”, afirma Ricardo Munir Nahas, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Esportiva.