São Paulo (AUN - USP) - Ele viveu durante a época renascentista, tornou-se engenheiro militar, sua produção literária alcança 20 obras escritas, desenvolveu a matemática financeira, projetou e construiu um carro, estudou e escreveu sobre arquitetura, geometria, dialética e política. Era conhecido dos poderes estabelecidos e foi até tutor de um príncipe.
Trata-se de Simon Stevin (1548–1620), conhecido como o Arquimedes Holandês, engenheiro e matemático, inspetor dos diques holandeses, mestre do quartel general , professor e conselheiro de Maurício de Nassau (o mesmo que invadiu o Nordeste brasileiro). A história de vida desta personalidade foi apresentada por alunos do IME (Instituto de Matemática e Estatística) da USP durante o VI SBHM (Seminário Brasileiro de História da Matemática), realizado na Universidade de Brasília entre os dias 20 e 23 de março.
O legado deixado pelo matemático é extenso. Indo ao encontro da mentalidade calvinista de seu país, ele publicou em seu primeiro trabalho, Tafelen van interest, tabelas de juros que até aquele momento eram segredos profissionais dos banqueiros, facilitando o entendimento das transações comerciais para todos, abrindo as portas da matemática monetária e as possibilidades de enriquecimento.
Stevin, como engenheiro militar, também estudou e dedicou-se à guerra. Certa vez, já como inspetor dos diques, inundou toda uma planície que havia sido tomada por invasores. Também foi fundamental nas batalhas entre a frota holandesa, calvinista e a Armada Espanhola, católica.
Um de seus mais fantásticos trabalhos foi um carro, movido pela força eólica, com capacidade para até 28 pessoas e alcançando inacreditáveis 35 quilômetros por hora. Neste projeto, que o tornou famoso em todo o país, está o apreço de Stevin de sempre obter um resultado prático da matemática.
Tamanha é essa busca pela prática que Stevin descreve, em seu livro La Disme (A Dízima; de 1585), uma maneira de representar qualquer número por frações decimais. Esta idéia apresentada neste pequeno folheto de não mais de 30 páginas é utilizada até hoje.
Outra obra sua que buscou aplicações práticas é De Thiende (O Décimo), em que mostra uma representação de frações decimais por números inteiros. Ele conseguiu tornar mais fácil para “... astrônomos, agrimensores, tecelões, coletores de impostos de vinho, mestres em cunhagem, e todo o tipo de comerciantes” lidar com valores que não eram inteiros. Esta obra teve importância, sendo uma das principais influências sobre Thomas Jefferson que o fizeram implantar uma moeda corrente decimal nos Estados Unidos.
Stevin não se restringiu a estes campos, porém. Dialectike ofte beweysconst (Dialética da Demonstração; de 1587); Vita politica, Het burgherlich leuen (Vida política, como ser um civil; de 1590); De Sterctenbovwing (A construção das Edificações; de 1594).
Curiosamente, Stevin quase veio ao Brasil, morrendo de causa desconhecida em 1620, apenas três anos antes da primeira Invasão Holandesa no litoral pernambucano. Se estivesse vivo, provavelmente iria compor a tripulação dos navios de Maurício de Nassau. E mesmo assim, revelam-se traços e idéias de Stevin em todo o episódio, seja na arquitetura, nos sistemas de água e esgoto construídos pelos holandeses em cidades como Recife e Olinda, seja nas estratégias de ataque utilizadas durante a conquista.