Alunos das disciplinas Paisagismo: Sistemas de Espaços Livres (graduação) e A Paisagem no Desenho do Cotidiano Urbano (pós-graduação), ambas do Departamento de Projeto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU), realizaram análises sobre as dimensões pública e política do espaço da Cidade Universitária. As propostas apresentadas pelos estudantes estão à mostra na exposição Espaço Público e Paisagem: Resistências e transformações no campus da Cidade Universitária da USP . Os estudos mostram que áreas de convívio, nas dimensões estudantil, intelectual e pública, podem ser melhoradas com planejamento correto.
O espaço dos alunos dentro da Cidade foi o estopim para o início dos estudos. As manifestações discentes contra a presença da Polícia Militar no campus, em 2011, levaram a discussões sobre as condições físicas do espaço universitário. De acordo com um dos organizadores da exposição, Eugenio Queiroga, há uma paulatina queda nos espaços de convívio estudantil, que é vista há muito anos. "Isso é um processo de desqualificação do campus como espaço público aberto a discussão e ao debate", diz o professor. A materialidade dos locais potencializa os debates. A resistência apresentada na exposição está ligada à manutenção da troca de ideias mesmo quando essa materialidade é perdida. "A gente pode estar sempre encontrando novos lugares para os debates e ações de natureza pública-política".
Grupos de pesquisa também estudaram percursos para pedestres e ciclistas que integrassem mais as unidades da USP. Esses caminhos fugiriam das calçadas para permitir uma maior comunicação interunidade. Assim, o fluxo de pessoas deixa de tomar a maior importância no transito. Prioriza-se mais a convivência dentro da comunidade. Queiroga ressalta que essas análises têm como objetivo abrir a possibilidade do encontro, mas nunca torná-lo um programa. A confraternização como potencial é mais interessante que criar locais específicos para cada tipo de atividade.
Porém, a Cidade Universitária não se restringe à comunidade USP. Ela é aberta ao público geral. Nesse caso, deve-se equilibrar o uso do campus. A professora Catharina Lima, também organizadora da exposição, comenta que, embora a Superintendência do Espaço Físico da USP (SEF) diga que a Cidade tenha atingido sua capacidade máxima, percebe-se que o campus é muito mais aberto e permite uma transversalidade entre locais. Essa condição pode potencializar a agregação de pessoas e a vivência, o que dá à Cidade uma condição de praça. Nota-se também que quanto maior for a ocupação do espaço público, mais segurança há. "Entrou aqui uma questão entre os professores de paisagismo sobre como povoar o espaço sem perder a condição de parque do campus. Não é o caso de entupirmos a USP de coisas", diz a pesquisadora.
Estudos sobre as relações do campus com seu entorno também foram realizados. Mais especificamente, com a comunidade Jardim São Remo. "Lembrando que boa parte da São Remo está dentro da propriedade da Universidade", reforça Queiroga. "Propor espaços de interação mais digna entre a São Remo e a universidade foi um objeto muito importante".
A exposição Espaço Público e Paisagem: Resistências e transformações no campus da Cidade Universitária da USP está em cartaz na FAU Maranhão — prédio de pós-graduação da FAU—, localizada na Rua Maranhão, 88, São Paulo, até o dia 29 de novembro. Mais informações no telefone (11) 3256-7341.