Considerado um dos maiores escritores nacionais, o que poucos sabem é que Guimarães Rosa foi vice-cônsul na Alemanha, entre 1938 e 1942. É este período que o premiado documentário Outro Sertão (73 min., 2013), das cineastas Soraia Vilela e Adriana Jacobsen busca revisitar. O trabalho que durou dez anos tem, no dia 3 de dezembro, sessão especial com a presença da uma das diretoras na Tenda Cultural Ortega y Gasset da USP.

A apresentação, gratuita para a comunidade, é uma iniciativa da curadora do Acervo João Guimarães Rosa do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), Sandra Vasconcelos. "Tive a oportunidade de encontrar as diretoras do filme em 2008, na Alemanha. Na ocasião elas apresentaram um pequeno trailer do documentário. Quando soube que o filme estava pronto, quis fazer uma apresentação na USP", conta a professora que lembra da participação do IEB, com sua documentação extensa sobre Rosa, no filme.

Em sua estreia, no 46º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, em 2013, a produção recebeu o Prêmio Especial do Júri, exaltando o trabalho de pesquisa das cineastas. E na recente Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, foram surpreendidas com o Prêmio do Público, Soraia Vilela conta sobre a reação do público: "Recebemos muito retorno de pessoas que foram assistir. Perceber que o filme emociona o espectador é para o realizador sempre uma grande satisfação", lembra a diretora que credita parte de sua formação estética à própria Mostra.

A Alemanha

Foi durante uma conversa na emissora de televisão em que Soraia trabalhava com Adriana, que as duas tiveram a ideia para o documentário. Elas questionavam como é que o escritor da infância e juventude das mineiras, teria reagido ao país que vivera duros anos do regime nazista. "Sempre tive uma proximidade enorme do universo por ele retratado", lembra Soraia. "Cresci no interior do estado e também por isso sua produção literária sempre me fascinou". Foi então que as diretoras começaram a se deparar com um volume de informações inéditas: depoimentos de sobreviventes e até mesmo imagens do autor. Para elas, a realização de um filme reunindo todo aquele material era "inevitável".

Durante o processo de captação das informações, as diretoras visitaram diversos arquivos na Alemanha, Brasil, Israel e Portugal. A partir disso, as cineastas trabalharam com a condensação de mais de 120 horas até que tivesse os 73 minutos do documentário. Entre a ideia inicial, em 2003, e a estreia no Festival de Brasília, transcorreram dez anos.

No Brasil, o IEB foi uma fonte de pesquisa importante para as cineastas durante o início da pesquisa. Foram consultadas as cadernetas de anotações do intelectual que datam daquele período na Alemanha. Para o documentário, também, foram utilizados manuscritos originais do conto O Mau Humor de Wotan, publicado no volume Ave, Palavra, escolhido para compor um dos capítulos importantes do filme, intitulado O amigo.

Descoberta

Na Alemanha as cineastas foram informadas de que uma emissora de televisão tinha em seu arquivo um material sobre Rosa. "Não sabíamos que se tratava de imagens tão preciosas, pois são praticamente as únicas em movimento do escritor", diz Soraia. A descoberta das cineastas era uma entrevista exclusiva realizada com o intelectual em estúdio de emissora alemã. As imagens nunca tinham ido ao ar. Feitas em 1962, ficaram décadas guardadas no arquivo morto até serem resgatadas pelo documentário.

Serviço
Local: Tenda Cultural Ortega y Gasset, Praça do Relógio, s/n. Cidade Universitária.
Data e Horário: 3 de dezembro, às 14 horas.
Entrada: Franca.
Apoio: Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos e Literários em Inglês e Instituto de Estudos Brasileiros.