Foi para despertar o interesse do público pela música contemporânea, que Oneyda Alvarenga (6/12/1911 – 24/02/1984) – musicóloga e aluna de Mário de Andrade – preparou os programas semanais da Discoteca Pública Municipal de São Paulo desde a década de 1930 até sua aposentadoria em 1968. A Rádio Cultura, em parceria com pesquisadora do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, organizou uma série de 21 programas para resgatar as atividades da musicóloga, disponíveis para consulta na internet.
Um desdobramento do projeto de mestrado de Valquíria Maroti Carozze, A menina boba e a Discoteca, os episódios semanais da emissão Oneyda Alvarenga e Seus Concertos de Discos, buscam apresentar os programas inteiros de concertos escolhidos pela intelectual na época, além de reproduzir textos e depoimentos de Oneyda para a contextualização de suas escolhas musicais.
"Quando fiz a transcrição desses programas, minha orientadora levou a proposta para a Rádio Cultura", conta Valquíria. "Eles fizeram um trabalho muito bonito. Uma montagem com leitores narrando o que o Mário falava e o que a Oneyda escrevia". A série traz o trabalho de Oneyda e de seus Concertos de Discos na Discoteca Pública, que organizou como primeira diretora do órgão.
Aprender a ouvir
Assim como os concertos de Oneyda, a série tem como objetivo a introdução do público à apreciação musical. Valquíria, durante seu processo de pesquisa, conta que esta preocupação da musicóloga ficou muito mais evidente quando associou os textos dos programas aos seus áudios respectivos. Para a pesquisadora, além de uma parte importante do mestrado, foi também muito 'gostosa'. "É um repertório bem escolhido. Ela era jovem, mas tinha um preparo gigantesco", ressalta Valquíria. "Quando você ouve o programa na Rádio Cultura, vê que era para incentivar o público, mesmo".
A pesquisadora acredita que os programas podem servir como um roteiro para o público que quer aprender mais sobre música contemporânea e de maneira didática. "O intuito dela era o de fazer as pessoas gostarem deste tipo de música, o que era difícil", confessa. Em sua jornada pela aceitação da música contemporânea pelo público que resistia, Oneyda organizava os concertos e espalhava cartazes pela Discoteca com incentivos à apreciação.
Para as apresentações, a musicóloga montava o programa de discos e escrevia algumas análises e considerações, que preparavam o público para o evento dividido em duas partes: uma mais densa, com autores pouco conhecidos e outra mais popular. "Ela geralmente usava um autor alemão, mas não uma obra muito conhecida", conta Valquíria. "Sabia que o público gostava de Bach, de Beethoven, de Mozart então ela punha obras que eles não estavam acostumados". A estreia da Discoteca, por exemplo, foi com um concerto de Stravinski em 1938.
A Menina Boba
A dissertação leva o nome do livro de poemas publicado por Oneyda também em 1938. A Menina Boba traz a produção literária da musicóloga desde a juventude. Apesar de ser bastante próxima ao Mário de Andrade, tinha vergonha de apresentar seus trabalhos ao autor. É considerada sua aluna e pupila mais brilhante, mas seu receio era grande pois não se via como escritora. Foi sua mãe quem levou os manuscritos ao modernista que reconheceu o talento de sua aluna, uma verdadeira poeta e incentivou sua publicação. Oneyda recebeu, à época, críticas muito favoráveis de Manuel Bandeira e Rosário Fusco.
Dê uma olhada nos programas completos da Rádio Cultura neste link.