Claudia Attimonelli, convidada do Instituto de Estudos Avançados, traz ao Brasil pesquisa relacionada ao significado de “fake” nos dias de hoje, especialmente nos campos da arte, moda, e publicidade. O conceito é um desafio para as categorias tradicionais, pois mistura ideias tidas por séculos como antagônicas na cultura ocidental: as de falso e verdadeiro. Com a cultura digital, o conceito de “fake” ampliou-se e, de acordo com a pesquisadora, estamos prontos para superar a aparente oposição entre a cópia (falso) e o original (real).
A primeira dificuldade em analisar “fake” consiste no fato de que não há uma tradução exata nas línguas latinas, a não ser que a use no sentido tradicional da palavra, que quer dizer falso. Entretanto, a não ser no inglês, quando se quer dizer que algo é falso, não se usa a palavra “fake”, o que prova que realmente não há uma palavra sinônima exata em outras línguas. Dentro do significado intradutível, “fake” é uma recriação de um novo autêntico original, resultado das seguintes ações: há um original (A), que é transformado em algo em construção (B), cujo novo objeto é um novo original( C). Como exemplo, Claudia usa a Mona Lisa (A), de Leonardo da Vinci, que Duchamp interferiu com barba e bigode (B) para depois, em outra pintura, torná-la praticamente irreconhecível (C). Dessa maneira, pode-ser falar que o “fake” é uma intevenção nova em algo que já existe.
Com o surgimento da fotografia, cinema e internet, a mistura de elementos aumentou tanto que hoje isso acontece de maneira incontrolável. O que tem-se são fragmentos da realidade nesses meios. A professora explica ainda que quando descreve-se algo como “fake”, dá-se uma espécie de julgamento a fenômeno, cujo veredito depende do ponto de vista. “O que pode ser falso para nós, talvez seja visto de outra maneira por outras pessoas”. O cinema e a fotografia são, de certa maneira, a cultura do “fake”, pois graças a elementos como montagem e edição das cenas, ressignificou-se a realidade, sendo impossível para quem assiste reconstruir os acontecimentos do momento da ação.
Claudia trata também da representação feminina nesse novo universo, em que a grande mídia propaga uma mulher que não existe no mundo real. “O corpo da mulher tem sido um lugar do colonialismo pelo poder masculino desde sempre em muitas culturas diferentes”. Esse fenômeno antigo causou a impossibilidade de as mulheres distinguirem, em termos de estética, o que desejma para si mesmas de como a sociedade espera que elas sejam - um modelo estabelecido sem negociação, a priori. “Não há nada de bom nesse processo, se pensarmos do ponto de vista feminino.”
Do ponto de vista midiológico e digital, pesquisadora acredita que é interessante, acima de tudo, por revelar uma espécie sonho das mulheres e homens de uma geração. “Eles acreditam que aquelas mulheres representadas são reais e isso cria um desejo de erotização da vida.”
Os estudos de Claudia Attimonelli se inserem em um contexto histórico intensamente fragmentado, em uma sociedade em que as aparências são fundamentais e a verdade é um conceito cada vez mais relativizado. A estudiosa também é lider das atividades artísticas de transmídia na Mediateca Regionale Pugliese e ensina cinema, fotografia e televisão na Universidade Aldo Moro de Bari, Italia.