ISSN 2359-5191

12/04/2005 - Ano: 38 - Edição Nº: 03 - Saúde - Hospital das Clínicas
Distúrbio alimentar agrava situação de usuários de drogas
Programa pioneiro estuda particularidades na evolução clínica de mulheres com transtornos alimentares e problemas com drogas

São Paulo (AUN - USP) - O filme Réquiem para um Sonho mostra a relação entre o distúrbio alimentar e o uso de drogas. Sara Goldfarb (Ellen Burstyn) sonha emagrecer para poder entrar em seu vestido vermelho e aparecer em um show de TV. Logo começa a utilizar anfetaminas, que inibem o apetite. Como na ficção, muitas pessoas sofrem com esses problemas. Para entender esses casos e saber como eles evoluem em comparação a dependentes químicos sem transtornos alimentares, a pesquisadora Silvia Brasiliano estudou, por um ano, 80 mulheres do Programa de Atendimento à Mulher Dependente Química (Promud), do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, algumas com transtorno alimentar, outras não.

A pesquisa descobriu que as mulheres com ambos distúrbios apresentavam maior prejuízo em relação às demais, o que é evidenciado pelo fato de procurarem tratamento mais cedo. Os principais transtornos alimentares apresentados são: bulimia nervosa (compulsão alimentar seguida de métodos para compensar a alimentação em excesso), anorexia nervosa (preocupação obsessiva com o peso, o que pode levar a subnutrição) e o comer compulsivo. Dentre as pacientes analisadas, a maioria dos casos de transtorno alimentar era de bulimia, já que a paciente procurava as drogas como forma de compensação pela nutrição inadequada.

Embora não existam explicações comprovadas para essa relação, acredita-se na ingestão de drogas como mecanismo de substituição ao consumo de alimentos, ou vice-versa, e no consumo de drogas ou alimentos como um mecanismo de recompensa, após situações angustiantes. Essas pessoas não sabem lidar com esse sentimento e o prazer proporcionado pelo consumo de alimentos, drogas, compra de bens ou em tentar a sorte em jogos são uma forma de defesa contra a dor e o sofrimento. São pessoas com personalidade aditiva, isto é, com uma facilidade para desenvolver dependência. Esse quadro é agravado pela impulsividade, que pode constituir a síndrome dos múltiplos impulsos, em que a pessoa não consegue controlar seus desejos e quer sempre mais de tudo.

Silvia ainda lembra que a sociedade contribui para o aumento dos casos de mulheres com esse problema: “Se a pessoa souber que vai parar de beber e vai engordar, ela vai preferir ser alcoólatra e magra”, mas adiciona que isso não explica todos os casos já que há exemplos históricos como o de santas anorexas e da princesa austríaca Sissi.

Segundo a pesquisadora, o Promud é um dos pioneiros no Brasil no tratamento de mulheres dependentes (a maioria dos demais programas são mistos) e é um dos únicos no mundo a desenvolver um trabalho integrado para mulheres dependentes químicas com distúrbios alimentares. Normalmente o tratamento a dependentes químicos não cuida das particularidades da mulher que também sofre de distúrbios alimentares, nem especialistas em transtornos alimentares contemplam as particularidades de uma paciente que também utiliza drogas, ainda que muitas vezes os problemas tenham uma causa comum.

Uma área pouco estudada, a importância desse trabalho é desenvolver um tratamento adequado para essas pacientes que apresentam um quadro clínico particular. A sua pesquisa inicia esse diagnóstico das semelhanças e diferenças entre os dois grupos de pacientes e contribui para aos poucos ser esboçado um tratamento mais preciso e eficaz.

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