São Paulo (AUN - USP) - Uma das manifestações da doença infecciosa toxoplasmose, causada pelo protozoário Toxoplasma gondii, é a lesão nos olhos, que pode evoluir para uma cegueira total se não for tratada. Porém, tal terapia apresenta inúmeros efeitos colaterais. Pensando nisso, o Departamento de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, coordenado pelo professor Luiz Vicente Rizzo, observou que a resposta auto-imune ajuda o organismo a se proteger de lesões oculares graves.
Essa pesquisa evidenciou que a auto-imunidade é intrínseca a alguns indivíduos e não pode ser induzida. “Não é considerado um tratamento, é uma reação natural de algumas pessoas, que faz com que, ao serem infectadas pelo Toxoplasma gondii no olho, elas passem a responder de maneira relativamente controlada contra antígenos da retina. Desta forma, há uma destruição das células em volta da lesão e isto dificulta o trabalho do parasita, pois ele não tem outras células para infectar e fica a mercê do sistema imune”, explica o professor.
Tal situação é muito mais eficiente e satisfatória do que o tratamento convencional. Para combater a lesão no olho, denominada retinocoroidite, uma vez que a retina é o alvo primário e a coróide só é afetada posteriormente, é necessário o uso de sulfa e pirimetamina, além de corticóides. Porém, esses compostos podem desencadear uma série de complicações: redução do ácido fólico (que provoca anemia e má absorção de sais e vitaminas), reação alérgica grave, dores gástricas, diarréia, dor de cabeça, fraqueza e tontura. Além do uso de esteróides, que pode levar ao glaucoma e à catarata.
Em trabalho recentemente divulgado pelo Journal of Autoimmunity, uma publicação americana, Adriana Vallochi, que pertence ao grupo de Rizzo nessa pesquisa, em associação ao professor Rubens Belfort Jr. e ao professor Cláudio Silveira, da Escola Paulista de Medicina, mostrou que 90% dos pacientes que possuem lesões brandas têm este tipo de reação auto-imune, enquanto menos de um terço dos indivíduos com lesões graves apresentam essa resposta.
Recidivas
Muitas pessoas podem apresentar recidivas (volta das lesões) e ter o olho totalmente destruído. Entretanto, Rizzo alerta que não é necessária o regresso delas para que o paciente portador de retinocoroidite fique cego: “O individuo pode ter uma lesão única massiva ou ter uma lesão pequena que ocupe parte significativa da mácula (região central do olho humano) e ficar cego”.
A resposta auto-imune não elimina a chance do paciente ter uma recidiva: “O seguimento que fizemos com o portador da lesão foi de apenas cinco anos, portanto não podemos descartar a possibilidade de sua volta, e, além disso, pouco menos de um terço dos pacientes com recidivas apresentaram resposta auto-imune”. Pode-se dizer que ainda não existe uma cura total para a retinocoroidite, mas a auto-imunidade é uma ajuda contra a ação do protozoário Toxoplasma gondii.