ISSN 2359-5191

05/12/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 112 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas
Mestrado mapeia ventos extremos na costa brasileira
Tipo de vento é pouco pesquisado e pode causar prejuízos
O estudo dos ventos extremos é importante para as atividades realizadas no litoral, como a produção de energia eólica. Foto: reprodução

A costa brasileira abriga 26,6% da população nacional, o equivalente a 50,7 milhões de pessoas, segundo dados do IBGE e da Marinha do Brasil. Na costa também são realizadas atividades econômicas relevantes, como a extração de petróleo e os serviços portuários.

Conhecer as condições climáticas dessa região é de grande importância para evitar que fenômenos extremos causem danos aos habitantes e a produção econômica. Porém, poucos estudos que abordam os ventos no sul do Oceano Atlântico foram realizados. Natália Pillar da Silva percebeu essa deficiência e em sua dissertação de mestrado, defendida no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, buscou coletar novos dados sobre a movimentação dos ventos nessa região do oceano. “Muitos dos fenômenos que vão interferir na zona costeira englobam o oceano atlântico inteiro”, afirma a pesquisadora.

O estudo, chamado “Extremos de Vento Sobre o Oeste do Oceano Atlântico Sul: Uma Análise Direcional das Ocorrências” teve foco na análise dos ventos que atingem a região, aqueles que são mais suscetíveis a causar problemas na costa. Os extremos de vento são raros, mas apresentam muita força e além de danificar estruturas por sua simples passagem, também causam ondulações no oceano, que geram ressacas.

A pesquisa desenvolvida por Natália também abordou a direção dos ventos, dado que é pouco registrado em outros trabalhos, que costumam focar mais na intensidade. “Não é só um vento extremo com um determinado valor. É um vento extremo com valor e direção que foi causado por um fenômeno. Foi isso que nós enxergamos a mais”, explica. Ao conhecer a direção desses ventos, é possível saber de onde eles vieram, o que causou sua existência e quais fenômenos meteorológicos estão envolvidos em sua passagem. 

O conhecimento dessas informações é essencial para a construção de estruturas marítimas, como as plataformas petrolíferas e as fazendas de energia eólica. Além de possibilitar que a estrutura seja construída de modo a suportar as condições do clima, é importante saber qual será a situação meteorológica para garantir segurança a possíveis trabalhadores que atuem em regiões afastadas da costa.

Fontes de dados

Os dados utilizados na pesquisa vieram de reanálises e simulações, já que existem poucas fontes de informação coletadas diretamente do oceano. São modelos que utilizam uma série de dados observados e fazem uma simulação com eles, o que alimenta e ajusta um modelo numérico. Natália afirma que as reanálises, por levarem em conta diversos dados em sua confecção, incorporaram informações imprescindíveis, tornando os resultados muito próximos das condições meteorológicas reais. Foram usados ainda dados recentes, colhidos via satélite. “Antes de utilizar o satélite, praticamente não existam dados”, conta a pesquisadora.

As medições meteorológicas e oceonográficas feitas antes da utilização de satélites se concentravam na parte norte do Oceano Atlântico, entre a América do Norte e a Europa. Na porção sul, só existiam poucos pontos mapeados, e apenas na região por onde passam os transatlânticos que partem do norte para a América do Sul.

A simulação numérica feita em laboratório no IAG permitiu que mais pontos do oceano fossem analisados, o que possibilitou a confecção de um mapa com as informações obtidas. O detalhamento maior também serviu para que eventos de escala espacial maior, mas com grande potencial energético, pudessem ser percebidos. Os dados utilizados no estudo seguem um intervalo de 30 anos, de 1982 até 2011, o que possibilita uma visão ampla da situação meteorológica e garante credibilidade para os resultados. “Ao invés de fazer uma coisa muito técnica, nossa preocupação era de tentar ver a ciência por trás desse valor”, explica Natália.

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