Para melhor entender os parasitos do gênero Schistosoma, causadores da esquistossomose, cientistas estão trabalhando em novas estratégias de estudo de todas as proteínas (proteoma) desses organismos. O estudo, apresentado em seminário pela cientista Laila Nahum no dia 21 de novembro no Instituto de Ciências Biomédicas da USP, visa analisar o proteoma de três espécies (S. haematobium, S. japonicum e S. mansoni) que causam esquistossomose em humanos. Laila, que é atualmente pesquisadora da FIOCRUZ em Minas Gerais, cursou doutorado na USP e fez três pós-doutorados em instituições norte-americanas. A proposta é estudar a biodiversidade dessas espécies de Schistosoma no nível molecular. O estudo das proteínas é essencial para que se possa entender exatamente quais são suas funções biológicas e qual a importância de cada uma dessas proteínas nos parasitos.
Para conhecer a função das proteínas no Schistosoma, a pesquisa se utiliza de “análises comparativas entre proteínas de Schistosoma e de outros organismos mais conhecidos, até mesmo proteínas humanas”, como conta Laila Nahum. A cientista se utiliza de uma metodologia denominada filogenômica, termo cunhado por Jonathan Eisen, que corresponde à interseção entre filogenética e genômica. O estudo utiliza conceitos de homologia (ancestralidade) para analisar as proteínas dos parasitos em árvores filogenéticas, semelhantes às árvores genealógicas, como explica Laila. Ela conta que “proteínas similares nem sempre possuem a mesma origem evolutiva” e que por isso o trabalho consiste em verificar os ancestrais das proteínas para predizer suas funções.
A esquistossomose é a segunda doença parasitária mais prevalente no mundo, atrás apenas da malária. A contaminação ocorre por meio da penetração da cercária, larva do Schistosoma, na pele do indivíduo. Os ovos do parasita, que são eliminados nas fezes (S. japonicum e S. mansoni) ou na urina (S. haematobium) dos indivíduos infectados, liberam os miracídios, que utilizam moluscos aquáticos para se desenvolverem. Por isso, para prevenir a infecção, é importante evitar o contato com águas contaminadas e utilizar luvas e botas de borracha em locais onde a doença é endêmica. A esquistossomose mansônica é popularmente conhecida como “xistose” ou “barriga d’água". A doença se manifesta por meio de vermelhidão e coceira cutâneas, febre, fraqueza, náusea, diarreia e vômito. Na fase crônica, fígado e baço podem aumentar de tamanho e podem ocorrer hemorragias, além do inchaço do abdome que caracteriza a doença.
O tratamento de esquistossomose atualmente é feito com um medicamento que possui efeitos colaterais e contraindicações. Além disso, o uso do medicamento não previne o paciente contra reinfecção e já existem relatos de Schistosoma resistentes ao medicamento tanto em laboratório quanto na natureza. “Conhecer as proteínas do parasito é potencialmente uma oportunidade para o desenvolvimento de novos medicamentos. Conhecendo melhor a função dessas proteínas, podemos descobrir novos alvos terapêuticos no futuro”, explica Laila.