A ideologia partidária dos governantes influencia a paradiplomacia municipal, modificando objetivos e eixos de atuação nas relações internacionais das cidades e levando à descontinuidade das políticas internacionais. Essa diferença também altera a imagem das cidades no exterior. Nesse nicho, é possível perceber a agenda de direita mais preocupada com investimentos externos, enquanto a de esquerda visa a parcerias de cunho social.
Essa foi a conclusão apontada por Izabela Viana de Araújo em sua pesquisa de mestrado A influência partidária no nível municipal: paradiplomacia na cidade de São Paulo. Ela objetivava provar que era possível perceber a diferença ideológica dos partidos, vista no senso comum brasileiro como pequena, mesmo em uma área bastante específica, como a de relações internacionais.
A pesquisa também envolve um tema ainda pouco estudado, a paradiplomacia. Tratam-se das relações internacionais praticadas por instituições diferentes do governo federal – ou seja, governos não centrais, como províncias, estados, cidades. Há casos de paradiplomacia também entre empresas ou universidades. Essas relações consistem em troca de informação, de conhecimento e até cooperação financeira e técnica para a resolução de problemas.
Para entender a situação brasileira, Izabela estudou a estratégia de inserção internacional do município de São Paulo em duas gestões diferentes: a de Marta Suplicy, do PT (2001–2004) e a de José Serra, PSDB e Gilberto Kassab, do DEM (2005–2008). As informações foram obtidas através de levantamentos sobre as atividades da secretaria de relações internacionais durante cada mandato e entrevistas com os secretários e alguns funcionários de cada gestão.
As secretarias de cada governo apresentavam diferenças burocráticas. Um exemplo apresentado é que, durante o de Marta, havia um secretário e funcionários, enquanto no de Serra/Kassab foi criado um cargo de secretário adjunto. Além disso, Izabela aponta que a prioridade de objetivos foi bastante diferente em cada caso.
“A Marta tinha uma base do governo inteiro que era da inclusão social, era uma coisa muito do PT. Ela entrou com essa bandeira na prefeitura e isso refletiu para a secretaria de RI”. Isso fica visível na atuação de sua secretaria, que, segundo o levantamento, foi a mais movimentada. A maior parte dos acordos de cooperação e eventos internacionais apresentava cunho social, e muitos dos projetos foram aplicados na periferia. Exemplos disso foram o projeto Bairro Legal, em parceria com o Banco Mundial, de investimentos em bairros da periferia e as doações de livros e dinheiro para as bibliotecas de escola pública pelo governo francês.
Já a secretaria na gestão Serra/Kassab “queria vender a cidade para o exterior e atrair investimento”. Na secretaria durante o governo Serra, não se relatam atividades, mas durante o governo Kassab, que seguiu sua linha partidária, estas eram voltadas aos negócios. Exemplo marcante é o dos seminários internacionais, que eram majoritariamente voltados ao comércio, como o Barcelona Meeting Point, sobre as oportunidades de negócio em São Paulo e a Vitrine das Américas, que visava exibir a cidade para investimentos.
A imagem municipal também sofreu mudanças com a troca de partido. A gestão Serra/Kassab mostrava São Paulo como uma cidade internacional, aberta e que apresentava potencial de atrair ainda mais gente e investimentos. Já durante o governo de Marta, exibia-se uma imagem mais negativa, de uma cidade bastante desigual e que necessitava se voltar para fora em busca de soluções para esse problema.
Ainda, há a questão da descontinuidade das políticas. “Dos projetos da Marta, pouquíssimos continuaram”. Nos casos em que estes tiveram continuidade, geralmente era por conta de a secretaria ainda apresentar verbas de doações a serem utilizadas. Além disso, a secretaria de Serra/Kassab saiu de grande parte das redes de cidades nas quais estava inserida durante o mandato anterior.