São Paulo (AUN - USP) - “A gente não vai sair introduzindo célula-tronco em ninguém, é necessário passar todos os estágios de pesquisa e pré-aplicação”, resume a professora titular de Genética Humana e Médica da USP e coordenadora do Centro do Genoma Humano, Mayana Zatz, acerca da generalizada expectativa levantada com a aprovação da Lei de Biossegurança no Congresso Nacional, aguardando apenas a provável sanção presidencial para regulamentar a pesquisa com células-tronco embrionárias.
Jogando um balde de água fria nos entusiastas mais imediatistas do uso das células-tronco embrionárias – com capacidade de conversão em qualquer um dos 216 tecidos (ossos, músculos e órgãos etc.) do corpo humano – Mayana não arrisca determinar um prazo exato para a aplicação da terapia celular. “Não há um prazo pré-determinado”, afirma a professora; “podemos levar no mínimo cinco anos, ou quem sabe, no máximo cinco anos; é muito incerto ainda”, conclui.
Desde a aprovação da Lei de Biossegurança, inúmeras pessoas têm enviado e-mails para a professora querendo saber quando poderão “injetar células” no corpo para curar moléstias que vão desde diabetes, passando por problemas de coração e até mesmo, doenças degenerativas neuro-musculares.
Fases da pesquisa
Por enquanto, a Lei de Biossegurança, uma vez sancionada, garantirá ao país condições de igualdade na pesquisa com as células-embrionárias no mesmo patamar que já se encontram países como Inglaterra, Holanda e Suécia - que contam com esse respaldo legal. Nos EUA, a lei que respalda as pesquisas encontra dificuldades de ser aprovada no Congresso, onde a maioria conservadora é contraria a esse tipo de pesquisa, principalmente por argumentos religiosos, já que as células são extraídas de embriões humanos.
O estágio inicial do processo de pesquisa, segundo Mayana, é desenvolver projetos e encaminhá-los aos conselhos de ética da USP e do órgão financiador. Nestes projetos estarão indicadas as diferentes fases pelas quais passará a pesquisa. Num primeiro estágio, será investigado o mecanismo pelo qual uma célula embrionária é induzida a formar diferentes tipos de tecidos. “O que ainda é obscuro nesse processo, é quem dá sinal para diferenciação da célula, em que estágio do seu desenvolvimento ela se converte numa célula específica e, principalmente, qual o mecanismo que a induz a tal processo – transformar-se em fígado, músculo, osso etc”, afirma a pesquisadora, apontando a direção inicial das pesquisas.
Num segundo momento, trabalhando com cultura de células em laboratório, o objetivo será dominar a “indução do papel da célula”, para então realizá-lo em modelos animais. Somente após uma criteriosa avaliação desse último estágio – aí reside à imprevisibilidade do prazo – será possível testá-lo em seres humanos. “O que as pessoas precisam entender é que existe um período entre a realização das pesquisas e o tratamento”, ressalta Mayana. Para ela, a idéia é pensar nessa terapia como uma substituição de tecidos, futuramente de órgãos. “O que hoje se trata com transplante, futuramente será tratado com terapia celular”, prevê a professora. Em relação a lógica comercial que pode orientar daqui para frente os estudos com células tronco, Mayana desconversa “Vamos ver o que vai acontecer, deixa aprovar o projeto”.