São Paulo (AUN - USP) - Exames utilizados para diagnóstico da doença de Chagas em hemocentros apresentam alto índice de resultados falso-positivos ou duvidosos. É possível que um paciente que esteja com leishmaniose ou mesmo alguns tipos de micose apresente resultado positivo. Esses erros se devem pela opção dos laboratórios por exames economicamente acessíveis e de alta sensibilidade, em detrimento de sua especificidade, isto é, da capacidade de reagir apenas ao Trypanosoma cruzi, protozoário causador da doença. Atualmente, as opções que aliam alta sensibilidade com alta especificidade são muito caras.
A pesquisadora Cláudia Regina de Marchi explica que o resultado do exame depende de alguns fatores particulares como da variedade do parasita e da resposta imunológica do infectado. Esses elementos são responsáveis, juntamente com fungos e outros protozoários, por resultados duvidosos, isto é, indefinidos. No entanto, casos de pessoas infectadas apresentarem exames negativos são raros.
Há testes específicos para cada uma das fases da doença: os exames parasitológicos identificam diretamente o protozoário e são recomendados para a fase aguda, já que há grande número de tripanossomos na corrente sanguínea. Essa é a fase inicial quando o doente apresenta sintomas como febre e inchaço nos olhos. No entanto, é comum a confusão desses sintomas com os de um resfriado comum. Por isso, a maioria das pessoas só descobre que está com a doença anos depois, quando começa a apresentar os sintomas da fase crônica, como falta de ar, problemas cardíacos ou alterações em exames de rotina. Nesta fase, os tripanossomos já migraram para algum órgão do corpo, como coração, esôfago ou estômago, e o uso de testes sorológicos, que verificam a presença de anticorpos no sangue da pessoa, é mais adequado.
Para desenvolver novos métodos, o Laboratório de Parasitologia do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo mantém uma linha de pesquisas para diagnóstico da doença. Cláudia conta que são dali algumas descobertas importantes como o TESA (trypomastigote excreted-secreted antigen), um antígeno com alta sensibilidade e especificidade. O antígeno é uma partícula do parasita responsável por desencadear a produção de anticorpos. Dentre os principais objetos de estudo estão antígenos purificados, antígenos recombinantes e peptídios sintéticos.
Formada em Ciências Biomédicas, a pesquisadora realiza diversos tipos de testes para diagnóstico de Chagas e estuda maneiras de melhorar a eficiência dos exames sorológicos. Em sua tese de mestrado pelo Instituto de Ciências Biomédicas, ela avaliou a eficácia de mucinas (glicoproteínas do muco do protozoário) purificadas do tripomastigoto, forma do tripanossomo no sangue humano, que apresentou índice de 100% de sensibilidade e de especificidade. Além disso, analisou outros dois antígenos, um purificado, o TAKK-P, que apresentou índice de sensibilidade de 100% e índice de especificidade de 99,5%, e outro recombinante, TSSA-II, que apresentou resultado insatisfatório, 99% de especificidade, porém apenas 89,9% de sensibilidade.
O diagnóstico equivocado da doença de Chagas é responsável pelo descarte de bolsas de sangue não contaminado que poderia ser utilizado e por contratempos para as pessoas. Os avanços produzidos pelo Laboratório de Parasitologia podem levar a um exame mais acessível e que identifique corretamente a doença.