ISSN 2359-5191

04/05/2005 - Ano: 38 - Edição Nº: 05 - Sociedade - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
São Paulo, a cidade que se virou contra os rios

São Paulo (AUN - USP) - Quando os portugueses chegaram aqui pela região em que se podia ver o mar, lugar conhecido pelos indígenas por Paranapiacaba, os colonizadores encontraram várias pequenas vilas de índios instaladas próximas aos rios Tietê, Jurubatuba – atual Pinheiros, e Piratininga, hoje chamado de Tamanduateí. São Paulo nasce, antes mesmo dos jesuítas, como cidade fluvial.

É o que propõe o professor Alexandre Delijaicov, em sua dissertação de mestrado e sua tese de doutorado sobre a relação da cidade com os rios. “São Paulo, metrópole fluvial: os rios e a arquitetura da cidade”, tese defendida neste ano, complementa o estudo já feito anteriormente, em 1991, “Os rios e o desenho da cidade: idéias de projeto para a zona fluvial da Grande São Paulo”.

“Os rios são elementos fundamentais e primordiais no desenho da cidade”, diz o professor, em uma cidade que virou as costas para o rio. Para ele, a cidade não aproveita os recursos que os rios poderiam fornecer para a cidade devido a um certo “rodoviarismo” implantado no país, desde a década de 30 com Prestes Maia na prefeitura de São Paulo. Várias avenidas foram implantadas na cidade, incluindo as marginais, o que diminuiu o espaço nas margens dos rios. Anterior a esse movimento, São Paulo chegou a ter um porto na região do Páteo do Colégio, o Porto Geral, que nomeou a ladeira próxima à Rua 25 de Março. A famosa região de comércio é na verdade um aterro.

Segundo o professor, o ser humano tem a característica de se instalar próximo aos rios, não só pelo simples fato da necessidade de água. “Os rios são verdadeiras máquinas de fazer cidades”. E realmente, a maioria das grandes metrópoles européias é cortada por rios ou canais. Praticamente todas as áreas de estuário do mundo são ocupadas por grandes cidades, como por exemplo na China e no delta do Nilo.

O rio pode ser também transporte. Nos EUA, por exemplo, a hidrovia é um recurso inclusive militar, estratégico para o país. Isso sem falar no fator econômico, presente nos canais na Europa e as hidrovias chinesas, utilizadas há mais de 5 mil anos. “A ferrovia deriva da hidrovia”, completa o professor.

Cidade-canal

Mas o que fazer perante uma situação dessas? O professor Delijaicov, com sua tese-projeto, além de estudar a relação dos centros urbanos com os rios, propõe a construção de um canal aquático de 20 km ligando as represas Billings e Taiaçupeba. Nessa “cidade-canal”, seriam instalados 2 mil apartamentos, cercados de pontes de equipamentos, ou seja, infra-estrutura para os moradores locais. Também seriam instalados boulevards fluviais, para propiciar lazer aos moradores e assim melhorar a qualidade de vida ali instalada. “Povos ribeirinhos têm até uma conotação pejorativa na sociedade atual, quando na verdade deveria ser o contrário”.

A vantagem dessas cidades-canal seria a facilidade de implantação, por ser um terreno sem muitas declinações e também a estrutura ambiental, que não influenciaria o curso dos rios, já que o canal é artificial.

Mas para haver qualquer tipo de mudança, é necessário primeiramente que haja um fortalecimento no gerenciamento hidrográfico do país. Para isso devem ser consideradas as agências de bacias, que hoje são comitês da Agência Nacional de Águas (ANA). Nela, o Brasil é dividido em unidades hidrográficas de gerenciamento, e um comitê é responsável por cada área. “A saída é implantar um sistema poluidor pagador, usuário pagador”. Nesse tipo de organização, paga-se pela quantidade de água que é consumida e poluída. O professor também fala da necessidade de “discutir em igualdade”, ou seja, grandes empresas podem ser processadas por poluir rios se isso prejudica pequenos produtores agrícolas, por exemplo.

“A água é um bem finito”, alerta o professor. Para ele, o rio tem que ser visto como um elemento arquitetônico na hora de um projeto. Ele pode fornecer qualidade de vida para a população e uma estrutura de proteção ambiental. “É proporcionar que o tempo que hoje é tão acelerado passe prazeroso para a população. Sem nostalgia!”, finaliza o professor.

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