ISSN 2359-5191

17/02/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 129 - Saúde - Faculdade de Odontologia
Nível de mineral nos ossos está relacionado à perda dos dentes
Imagem: M de Mulher

A condição da densidade mineral nos ossos é inversamente proporcional à perda de inserção clínica, dada pela retração ou inflamação gengival. Quando as estruturas dentais estão perdidas, é sinal de que a estrutura óssea do corpo também pode estar alterada. Nas mulheres que se encontram no período após a menopausa, a perda de inserção clínica grave se encontra associada, ainda, à perda dentária, ao sangramento aos exames e ao tabagismo.

Os dentes têm estruturas de função protetora - a gengiva -, e de função de sustentação - o osso, uma fibra que une o osso ao dente (ligamento periodontal) e a parte externa da raiz (cemento). Segundo explica Valéria Gondim da Silva, responsável pela tese de doutorado defendida na Faculdade de Odontologia, para saber se um dente está bem inserido, basta verificar as condições dessa estrutura de sustentação. Por meio de sondagem, é possível saber quantos milímetros de inserção foram perdidos e determinar se a perda é leve, moderada ou grave. A partir do momento em que há uma perda óssea de 30% dos sítios na boca medindo de quatro a cinco milímetros, é considerada moderada, e acima de cinco, grave.

Para investigar essa associação e a relação com outras variáveis, pesquisadores da Faculdade de Odontologia da USP colocaram um anúncio por um mês na rádio CBN para recrutar voluntários. Foram avaliadas mulheres maiores de 50 anos que se encontrassem após a menopausa e que tivessem interesse em fazer um exame que avalia a densidade mineral nos ossos (densitometria óssea). Da amostragem geral, chegou-se a um número de 148 mulheres, dentre as quais a maioria se declarou branca, com sobrepeso ou obesa, não fumante e que realizasse exercícios físicos. Destas, um quarto tinha histórico de terapia hormonal (suplementação de estrogênio). Houve exclusões de mulheres desdentadas, com doenças bucais e determinadas fraturas recentes.

O estudo foi realizado em três segmentos: dados de entrevista prévia (idade, raça, atividade física, dieta alimentar, exposição ao tabagismo), dados de densidade mineral óssea (densitometria avaliando coluna, colo do fêmur e fêmur total) e dados clínicos odontológicos (exame clínico). Dependendo do feedback, as pacientes eram encaminhadas para tratamento. “Muitas nunca tinham feito o exame. A busca não era nem tanto para saber sobre a osteoporose, mas sim, para tratamento odontológico”, comenta A pesquisadora responsável pela tese finalista na área da saúde do Prêmio Tese Destaque USP 2013. Avaliou-se a relação entre perda de inserção clínica e densidade mineral óssea considerando fatores como estilo de vida, tabagismo, variáveis clínicas dentárias e índices sociodemográficos.

Sondas periodontais inserida em seis sítios dentais revelou que 86 mulheres (58,11%) foram detectadas com perda de inserção clínica grave (perda de mais de 5 mm) em pelo menos um sítio. A moderada foi encontrada nas 62 (41,89%) restantes. Quando analisado o grupo considerado grave, houve relações significativas entre a perda de inserção clínica e o índice de sangramento ao exame e a perda dentária. Ainda neste grupo, diferentemente das moderadas, as maiores médias de perda de inserção (~5,06 milímetros) foram encontradas em mulheres classificadas como fumantes pesadas. Em outra análise, a densidade mineral óssea obteve significativa associação com estas variáveis.

Patologias bucais e corpóreas relativas aos ossos

Doenças periodontais são doenças infecto-inflamatórias nos tecidos de sustentação e suporte bucais, grandes responsáveis por extração ou perda de dente. Têm a placa bacteriana oriunda da má higienização como uma de suas principais causadoras, mas condições sistêmicas do indivíduo, como osteoporose, podem ser muito relevantes em seu surgimento.

Osteoporose, em si, é um comprometimento ósseo ligado ao grau de perda da densidade mineral do osso que aumenta o risco de fraturas. A incidência em homens é mais comum a partir dos 70 anos, no período da andropausa, e acomete mais as mulheres após a menopausa, o que, na média brasileira, acontece por volta dos 50 anos. Nesse período da vida da mulher, há uma redução drástica do nível de estrógeno. É inequívoco o impacto do hipoestrogenismo sobre a desordem do processo de remodelação óssea - aumento da renovação e diminuição da formação dos ossos.

Se não for feita reposição hormonal, corre-se o risco de ter osteoporose. "E muitas mulheres não fazem reposição porque acreditam não haver nada por não sentirem nada, já que a doença é silenciosa", diz Valéria. A pesquisadora ainda conta que, além de existir o preconceito em torno de tomar hormônio e engordar, no início dos anos 2000 foi realizado um estudo com mulheres que faziam reposição hormonal e o mesmo teve que ser interrompido porque houve uma incidência muito grande de câncer entre as pacientes. Com esse impacto, começou-se a evitar a reposição, mas esse quadro vem se revertendo nos últimos anos.

Os estudos realizados na Faculdade de Odontologia constataram que quem tem mais doença periodontal tem mais osteoporose, mas não se sabe exatamente o quê influencia no quê. “Hoje se sabe somente que uma alteração imunológica liberará alguns produtos que farão uma reabsorção óssea”, diz Valéria Gondim. Atualmente, medicamentos como bifosfonatos são capazes de inibir a reabsorção do osso. Em relação à periodontite, o tratamento consiste na raspagem do cálculo (tártaro) e no tecido que está ao redor do dente para devolvê-lo saúde. A infecção também pode ser retirada e controlada, mas a doença não tem cura. "A partir do momento quando os dentes perdem suas estruturas (osso e ligamentos) não há técnica cirúrgica que as faça voltar."

Mas se não for tratada, a doença pode levar à perda do dente pela destruição dessas estruturas de sustentação. Para a pesquisadora, é necessário que, além de um cuidado bucal adequado, mulheres na pós-menopausa com perda de inserção clínica grave dediquem uma atenção complementar à sua saúde óssea sistêmica. Assim, é importante que haja reconhecimento deste grupo de indivíduos para que profissionais da saúde possam oferecer um planejamento adequado de medidas preventivas e terapêuticas.

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