A prótese dentária termoplástica ou flexível, que atualmente é utilizada como predecessora da convencional, está passando por estudos para ver se as características de seu material podem validá-la para uso permanente. O professor Roberto Chaib Stegun, um dos coordenadores do projeto Envelhecer Sorrindo, da Faculdade de Odontologia, explica que, além de mais estético, esse modelo pode ser mais barato e de fácil confecção.
O projeto existe desde 1999, Ano Internacional do Idoso, quando se percebeu que a faculdade não tinha um atendimento específico para os pacientes de mais idade. “Eles pegavam senha e aguardavam na fila como qualquer outro, quando, na verdade, suas necessidades são um pouco diferenciadas de um paciente regular”, conta o professor. A iniciativa começou produzindo prótese total para os mais diversos tipos de idosos desdentados.
As peculiaridades de se lidar com idosos começaram a surgir quando algumas próteses aparentaram dificuldade de adaptação. A parte técnica do objeto estava perfeita, mas o paciente se queixava de desconforto, sem saber explicar o que acontecia. Como conta Stegun, procurou-se o Instituto de Psiquiatria para oferecessem orientação sobre qual seria a melhor maneira de conduzir o tratamento. Percebeu-se, então que não haviam sido aplicados pelo grupo questionários específicos para aspectos da velhice, como problemas cognitivos, somente uma ficha comum. Uma psiquiatra começou a auxiliar o grupo, que cresceu. O idoso passou a ser entendido já na sala de espera.
A partir desse momento se juntaram ao projeto fonoaudiólogos, nutricionistas, fisioterapeutas e artistas. Com isso, foram avaliadas as condições do paciente antes da prótese, para verificar se a má adaptação não era decorrente de problemas fonoaudiológicos, foram avaliados seus hábitos alimentares com e sem prótese, e foram feitos exercícios físicos, arteterapia e atividades artísticas para diminuir a ansiedade.
Por conta da crescente demanda de pacientes com a presença de alguns dentes, o tratamento passou a ser dividido. Enquanto a área da prótese total começou a trabalhar com o uso de aparelhos para tratamento de apneia do sono em pacientes idosos, a da prótese parcial se aprofundou em estudos sobre a prótese flexível.
Próteses dentárias são importantes para a manutenção do sistema estomatognático e das funções mastigatória, fonética e estética. De acordo com Stegun, a maior queixa de quem usa a prótese removível é o grampo de metal aparente. “Os dentes ficam perfeitos, mas o grampinho entrega que é uma prótese”. Já a flexível ou termoplástica tem o suporte inteiramente feito de um plástico da cor da gengiva. Também, uma das consequências da velhice é que já não se enxerga tão bem e já não se tem tanto controle motor, o que possibilita mais facilmente que a prótese comum caia e quebre. O material plástico, por sua vez, não corre esse risco.
Apesar de já ser cientificamente validada, o professor explica que a prótese convencional apresenta como outra desvantagem seu complexo processo de produção, uma vez que há uma série de procedimentos clínicos e laboratoriais para que seja, de fato, funcional. Mas pesquisas realizadas pelo grupo em laboratórios protéticos mostram que nem sempre esses procedimentos são seguidos a rigor no projeto feito pelos dentistas. Por isso, a prótese, que, na teoria, é perfeita, passa a surtir um efeito negativo se não feita com os critérios adequados. Já o paciente, que muitas vezes só se preocupa com a aparência do sorriso, não tem consciência dos problemas mastigatórios e de oclusão que pode ter. “E aí está sujeito a perder dentes”, diz Stegun. “Para que o dentista faça uma prótese adequada independentemente de seu projeto, o mais indicado seria fazer a termoplástica.” Só é necessário um procedimento, a estrutura metálica não precisa ser construída e ajustada para só depois se fazer o resto, como acontece na convencional.
Ou seja, a termoplástica é mais resistente, mais estética, e de mais rápida produção, mas sua eficiência varia dependendo dos casos – fazer prótese total (para a boca toda) termoplástica, por exemplo, não é recomendado. Para avaliar e comparar o comportamento de cada tipo de prótese em específico, o projeto está realizando estudos com os pacientes que buscam atendimento na faculdade. Os idosos foram divididos em dois grupos, um que usaria a prótese comum, e outro, a flexível. Para todos foram feitos questionários, tratamentos e avaliações prévios e posteriores com os profissionais das mais diversas áreas que compõem o projeto.
Os dados já estão coletados e passarão por um estatístico para ser feita avaliação inicial. A partir daí, será eliminado o teste com a prótese convencional e se estudarão somente as modificações na termoplástica. “Como estamos nos baseando em técnicas pré-estabelecidas, não podemos mudar o formato do molde termoplástico para os fins da pesquisa atual. Mas, após obtidos os resultados, pretendemos fazer ajustes técnicos, porque percebemos que podemos ter resultados melhores.”