Uma pesquisa do Instituto de Matemática e Estatística da USP (IME/USP) sinaliza grande ajuda para a neurociência. O estudo do professor André Fujita, sobre o qual já foram publicados dois artigos científicos, mostra áreas do cérebro correlacionadas com o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). "Hoje em dia, o diagnóstico é muito subjetivo: são passados questionários para a criança, os pais e os educadores para, assim, se diagnosticar o TDAH. O ideal seria fazer uma ressonância magnética e poder identificar o distúrbio", explica Fujita.
A pesquisa do professor do IME baseia-se na análise comparativa de imagens em 3D, coletadas por meio de ressonâncias magnéticas, de crianças diagnosticadas com o distúrbio e daquelas consideradas normais. Nessas imagens, cada ponto - que, em uma imagem plana, seria chamado de pixel - é um voxel. Esses voxels são agrupados em regiões de interesse (ROIs, que vem de "regions of interest") de modo a poder se identificar áreas do cérebro que estejam ativas. Como a coleta mostra a atividade durante um curto período de tempo, é possível identificar quais regiões estão ativas ao mesmo tempo. Feito isso, vê-se, estatisticamente, se há correlação entre as atividades de diferentes regiões do cérebro. A partir daí, faz-se um mapeamento individual das atividade cerebrais e, então, pode-se comparar o cérebro de uma pessoa considerada normal com o de alguém que tenha o TDAH.
Essa comparação é feita a partir do cálculo da entropia de rede, que é o nível de desorganização dos agrupamentos feitos e a média entre as pessoas consideradas normais. Esse cálculo foi desenvolvido no primeiro artigo científico publicado pelo professor André Fujita. Outra parte desenvolvida por ele foi o algoritmo capaz de avaliar uma quantidade tão grande de dados presentes nas imagens. Para se ter uma ideia, foram analisadas cerca de 700 imagens em 3D dos cérebros de crianças, contendo aproximadamente 60 mil voxels cada uma. Além disso, as imagens eram referentes a algo próximo de 200 segundos de atividade cerebral.
Apesar dos avanços nos estudos da área, a pesquisa ainda é difícil de ser aplicada clinicamente. "O problema ainda não tem um biomarcador que defina claramente se a pessoa é hiperativa ou não", diz o professor. Isso significa que, mesmo tendo descoberto as diferenças entre as atividades cerebrais de pessoas com o distúrbio da hiperatividade e das que são consideradas normais, não se pode afirmar categoricamente o que exatamente causa o TDAH. De acordo com Fujita, ainda há interesse na continuação da pesquisa para que se possa identificar as áreas mais precisas do cérebro, responsáveis pela hiperatividade. Dessa forma, o TDAH poderia ser diagnosticado de maneira mais objetiva, por meio de um único exame de ressonância magnética.