Aconteceu no último dia 21 de março, no Instituto de Psicologia da USP, palestra com o professor Luca Tateo a respeito da vida e obra de Giambattista Vico (1668 – 1744), filósofo, retórico, historiador e jurista que, apesar de não ser conhecido pelos estudantes de psicologia, exerce grande influência nas ciências sociais.
Vico versus Descartes
Tateo inicia a palestra com uma contextualização histórica. Ele explica que o pensamento que imperava na época de Vico era o de Descartes, que acreditava que a ciência e a crítica se sobrepunham à retórica da vida cotidiana. Vico defendia que essa hierarquia não existia, já que o senso comum, em que todos vivem, é necessário para a perpetuação da existência humana por possibilitar a vida prática, em que a reflexão não é essencial.
"Para Vico a retórica não servia somente para a vida social, mas era também ciência da linguagem que se relacionava com o desenvolvimento do pensamento", destaca Tateo. Esse conceito fez com que ele se tornasse o precursor do estudo da relação entre linguagem e pensamento. Para ele, se o estudante só aprende na crítica, não consegue lidar com a vida real e não é capaz de agir ativamente na vida social.
A partir dessa concepção, Vico desenvolve uma ideia de ciência com o intuito de estudar os produtos das civilizações, e o ponto de partida de seus estudos foi o desenvolvimento de um método geométrico capaz de decifrar as ciências humanas, em oposição ao método matemático de Descartes.
Vico e a psicologia cultural
Em seu “Princípios da Ciência Nova”, Vico sugere que o ser humano cria sua cultura a partir daquilo que o assusta. A primeira explicação para aquilo que desconhece é poética (metafórica) e somente depois é que surge o pensamento racional.
Por ser muito religioso, Vico acreditava que somente Deus possui o conhecimento absoluto. O homem, então, que se utiliza como medida para todas as coisas, possui mente etnocêntrica e seu ponto de vista é a medida de seu conhecimento, sendo a mente humana capaz de interpretar o desconhecido somente a partir do particular. Portanto, para se conhecer uma civilização, não se pode separar corpo, mente, linguagem e cultura. O que é humano deve ser estudado em seu contexto histórico.
Tateo defende que, ao propor um método que permitisse estudar a cultura e compreender a mente e a atividade humana, Vico estabelece as ideias precursoras da psicologia cultural. “Vico foi quase esquecido pela psicologia cultural, pelo menos explicitamente. No entanto, suas ideias ainda são muito produtivas para futuras pesquisas, como a imaginação, a abordagem genética [estudo de condutas ou funções que priorizam suas origens e mudanças] e o estudo das funções mentais superiores como produtos de engenho humano ao invés do estudo da mera linguagem.”