ISSN 2359-5191

23/04/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 5 - Sociedade - Escola de Educação Física e Esporte
Professora da USP comenta mito entre esporte e saúde
A atividade física proporciona diferentes sensações para cada indivíduo

Tanto o esporte quanto a saúde são considerados mercadorias, apesar de serem direitos constitucionais de cada cidadão. A pesquisadora Yara M. de Carvalho, professora da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE – USP), comenta a relação entre eles.

“O modelo capitalista proporciona o acesso à saúde a quem pode pagar por médicos e remédios, e quem tem acesso ao esporte é quem pode pagar academias, clubes, etc”, comenta a pesquisadora. No caso do esporte, uma alternativa para combater a desigualdade seria a educação física na escola. Entretanto, ela apresenta muitos pontos falhos. Existem mais de 300 práticas corporais, mas apenas 4 recebem destaque: futebol, vôlei, basquete e handball. Além disso, elas não são ensinadas de modo cooperativo e participativo, mas de uma forma que exclui e discrimina. Muitas vezes, as crianças que não tem um bom desempenho nas aulas sentem-se excluídas, além do fato de que as técnicas ensinadas visam mais o universo masculino do que o feminino. Essa busca pelo rendimento passa a se refletir até nos momentos de lazer das crianças, em que os que fazem mais gols, por exemplo, são escolhidos antes dos que não tem tanta habilidade.

Outro problema da educação física escolar é que quase não se trabalha a respiração, a voz, o tato ou o aquecimento com o outro. A dimensão lúdica e as brincadeiras também são pouco exploradas, de forma as concepções de corpo fiquem limitadas às técnicas das modalidades. Essa é uma influencia dos valores do esporte de alto nível, em que se valoriza o resultado em detrimento do processo de aprimoramento.

Além disso, muitas crianças que se dedicam a uma modalidade esportiva sofrem lesões, e em atletas profissionais elas podem ser irreversíveis. Esse quadro pode inviabilizar uma vida normal após o término da carreira - como ocorre com muitos ginastas de alto nível. Isso também contribui para desvincular o esporte da saúde.

Segundo a professora, o esporte só poderia ser realmente considerado saúde se o individuo experimentasse uma liberdade dos modos de existir através dele. Ela afirma que é necessário descobrir diferentes formas de trabalhar o corpo, pois o que se vivencia no esporte se reflete em outros planos de experiência do indivíduo. Por isso, o objetivo a educação física deveria ser não só o aprimoramento físico, mas também o de propiciar uma variedade de experiências com de corpo.

Mesmo os poucos que tem acesso à essas experiências tendem às metas, como treinar para ser um melhor jogador, treinar para ter saúde ou para não ter doença. Porém, Yara lembra que as práticas corporais que mais marcam os indivíduos são as que os fazem presenciar o tempo presente, ou seja, não pensar nos objetivos futuros ou no que aconteceu no passado. É por isso que algumas pessoas ficam tanto tempo na mesma modalidade, pois elas experimentam algo que só pode ser vivenciado nessas práticas. Isso também explica porque muitas pessoas que pagam academia desistem: o que motiva não é apenas a estética, mas o círculo social, o encontrar com pessoas que compartilham interesses. Assim, não basta praticar um esporte, é preciso se identificar com as experiências que a atividade proporciona.


As diferentes modalidades levam a diferentes experiencias

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