Conclusões parciais da pesquisa apontam que o fluxo de umidade dos ciclones subtropicais ocorridos na costa das regiões Sul e Sudeste provém de áreas remotas do Atlântico, especialmente aquelas localizadas a nordeste da chamada Região 1 (RG1), principal área de formação desses ciclones. O doutorando Luiz Felippe Gozzo, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) apresentou os resultados da pesquisa durante o seminário “Ciclones subtropicais no Atlântico Sul - climatologia e análise das fontes de umidade”.
O estudo analisou os ciclones ocorridos no Atlântico Sudoeste entre 1979 e 2011. O foco da pesquisa são os sistemas subtropicais, que representam entre 6% e 8% dos ciclones no período do verão nessa zona de observação. Luiz Felippe delimitou um espaço ainda menor, localizado na costa da região Sudeste, a RG 1, no qual 30% a 33% dos ciclones de verão são subtropicais. O doutorando aponta que o que caracteriza os sistemas subtropicais é a temperatura do núcleo do ciclone. “O ciclone é um vórtice. No centro dos ciclones extratropicais o núcleo é frio, e no centro dos tropicais ele é quente. Os subtropicais seriam um intermediário: ele é quente embaixo e frio em cima”, afirma.
Luiz Felippe Gozzo explica que os ciclones subtropicais ocorrem principalmente entre as faixas de latitude de 20 e 40 graus, nos dois hemisférios. "O Atlântico Sul, na verdade, é uma região de fraca ocorrência dos subtropicais, que são mais comuns no Pacífico Norte e no Atlântico Norte. Esse é o motivo pelo qual esta pesquisa é interessante, pois estamos tratando de sistemas que não se formam comumente nas condições do Atlântico Sul." De acordo com os estudos de Luiz Felippe, há uma média de sete ciclones subtropicais por ano na região.
Ciclones subtropicais de acordo com estações
Gozzo também afirma que os sistemas subtropicais são mais fracos em relação aos extratropicais, mas têm ventos mais intensos, que podem chegar a 150 km/h. Foi o que aconteceu em 2004 com o Catarina, na região Sul, fenômeno tão intenso que evoluiu para um furacão. Os sistemas ciclônicos se formam próximos da costa e permanecem na região, causando ventania e muita chuva. Os ciclones subtropicais têm maior ocorrência no verão por causa das pressões mais baixas no continente nessa estação.
Luiz Felippe diz que é possível prever com confiança um sistema subtropical com três dias de antecedência. “Mas são sistemas que a gente ainda não compreende muito bem”, salienta. “Um extratropical você consegue prever com oito ou nove dias de antecedência. Um subtropical, não”. O doutorando afirma que os ciclones subtropicais têm duração média de um a três dias, e percorrem pequenas distâncias, não ultrapassando 100 km.
O pesquisador aponta características dos sistemas tropicais e extratropicais, marcando sua diferença em relação aos subtropicais: "Os ciclones tropicais, também chamados furacões ou tufões, são sistemas ainda menores e com os ventos mais intensos entre os três tipos. Eles ocorrem na região equatorial do planeta, e os mais famosos ultimamente creio que sejam o furacão Katrina, em 2005, e o Sandy, em 2012." Sobre os sistemas extratropicais, Luiz Felippe diz que são os maiores sistemas, mas tem menor intensidade. Eles se formam em latitudes médias. "Próximo da América do Sul ocorre, em média, um ciclone extratropical por semana", explica.
O método de pesquisa usado por Gozzo para analisar a origem dos fluxos de umidade é conhecido como modelo Langrangeano de dispersão de partículas. Originalmente esse modelo foi desenvolvido para observar a dispersão de poluentes. Toma-se por referência uma determidada partícula e então verifica-se as mudanças de suas propriedades e sua movimentação no decorrer do tempo. Com esse método, Luiz Felippe conclui que as principais fontes de umidade são provenientes do Atlântico, especialmente das regiões a Nordeste e a Sul da RG 1. Ele também comenta que a contribuição vinda do continente na ocorrência dos ciclones é mínima, e mesmo as massas úmidas da região amazônica não chegam ao litoral, pois a umidade é perdida no caminho por precipitação.
Luiz Felippe Gozzo diz que ainda não é possível afirmar a relação entre a ocorrência dos ciclones subtropicais e o contexto de aquecimento global: “é possível perceber um aumento muito leve na ocorrência desses sistemas, mas esse período de análise não é suficiente para afirmar que é o aquecimento global. Existem outros fatores, outros modos de variabilidade da atmosfera que podem estar influenciando”. Os próximos passos da pesquisa de Gozzo envolvem cálculos numéricos com o objetivo de simular casos de ciclogênese subtropical isolando a área de estudo para entender como os ciclones se desenvolveriam sem a influência dos fluxos de umidade distantes.