ISSN 2359-5191

28/04/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 7 - Saúde - Faculdade de Medicina
Planta da Mata Atlântica é estudada contra veneno de jararaca
O gênero Bothrops é responsável pela maioria dos ataques de cobras no Brasil (Foto: Marcio Cabral de Moura/Flickr)

O uso de uma planta para tratamento da injúria renal aguda (IRA) causada pelo veneno da jararaca foi tema da tese de mestrado da biomédica Monique Martines, da Faculdade de Medicina da USP. Baseou-se o estudo nas propriedades antiofídicas do guapuruvú (Schizolobium parahyba), utilizado comumente no Triângulo Mineiro (MG) para medicação de animais domésticos atacados pela peçonha. A pesquisa concluiu que não foram obtidos resultados satisfatórios em relação à fitoterapia sobre a IRA; no entanto, a especialista revela a necessidade da busca de alternativas para a dependência da soroterapia nesses casos.

A frequência de desenvolvimento da IRA nos pacientes atingidos pelo veneno da cobra chega a 38%, e Monique afirma que o seu objetivo no mestrado era “ver se o extrato vegetal da guapuruvú poderia neutralizar a ação do veneno da peçonha nos rins”. Disponível na Mata Atlântica, a planta, com características antibotrópicas, é utilizada na forma de infusões pela medicina tradicional na região interiorana de Minas Gerais. Apesar de a biomédica concluir que os atributos da planta não interferiram no desenvolvimento da doença renal, o estudo se mostra importante para averiguar o caráter de costumes populares, como o do emprego do vegetal nas picadas de jararaca.

Folhas e sementes do guapuruvú foram usadas no estudo (Foto: mauroguanandi/Flickr)

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), no mundo acontecem cerca de 5 milhões de acidentes ofídicos por ano. No Brasil, são notificados 20 mil ocorrências anualmente e 87% delas resultam de ataque do gênero Bothrops, o qual  a espécie da jararaca (Bothrops jararaca) pertence.  Como a maior parte desses eventos se passa na zona rural, um dos problemas detectado é a dificuldade logística para levar o soro antiofídico ao paciente, por isso os habitantes buscam, no emprego das plantas, outras formas de amenizar os efeitos do veneno. A OMS assegura ainda que até 80% da população de países em desenvolvimento dependam da fitoterapia para os primeiros cuidados em acidentes com cobras.

Além disso, Monique conta que o tempo é um fator decisivo para a instalação da IRA: “muitas pessoas que são mordidas por serpentes estão em um ambiente rural, até chegar a um centro hospitalar se passaram duas ou três horas e nisso o rim já foi afetado”. Mesmo que o soro antiofídico seja o medicamento recomendado para reverter a injúria renal, é pouco eficaz nas consequências locais do veneno. Há também outras limitações do soro, em escala ampliada, como o prazo de validade curto, necessidade de cuidados especiais com o armazenamento e a produção cara. “Isso acaba interferindo na vida de uma pessoa que mora num ambiente rural e não tem acesso”, contesta a biomédica, e por isso “cada vez mais estudos envolvendo fitoterapia para curar os malefícios do veneno de peçonhas estão sendo realizados”.

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