O terremoto de magnitude 8,2 que atingiu o norte chileno no dia 1 de abril rompeu parcialmente a lacuna sísmica que havia na região. O tremor resultou no rompimento de cerca de 200 km da lacuna, que tem extensão total de aproximadamente 500 km. Abalos de menor magnitude ocorriam desde 16 de março e davam indícios de um novo cenário sísmico para a área, que não era atingida por grandes terremotos desde 1877.
O geólogo chileno Hans Alex Agurto Detzel, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG), comenta que, após o grande abalo do dia 1 de abril a frequência de abalos, chamada de sismicidade, migrou para o sul da cidade de Iquique, no norte do país, na qual foi registrada a maior réplica, de magnitude 7,6, no dia 3 de abril. “Depois disso a sismicidade começou a decair mas ainda acontecem dezenas de réplicas cada dia. O mais provável é que a sismicidede continue a decair até desaparecer”, comenta.
Apesar da diminuição da sismicidade, Detzel salienta que o rompimento foi apenas parcial, e ainda há grande acúmulo de energia entre as placas, a qual pode ser liberada a qualquer momento através de terremotos. “É importante lembrar que ainda temos toda a parte sul da lacuna entre Iquique e Mejillones, que não consegue romper desde 1877 e tem energia acumulada suficiente para um outro terremoto de magnitude similar ao 8.2 ou maior.” Antes do megaterremoto do dia 1 de abril, o geólogo havia exposto a possibilidade de ocorrência do rompimento da lacuna em um seminário do IAG, no dia 27 de março.
Uma das três hipóteses que Detzel havia levantado, a do rompimento parcial, é compatível com o cenário sísmico que se estabeleceu. Ele apontava a chance da ruptura parcial e previa a ocorrência de dois terremotos, com magnitude próxima a 8,2. O geólogo complementa: “O primeiro já aconteceu. Agora temos que esperar o segundo que pode acontecer este ano ou em vários anos mais. Mas tudo isso são probabilidades, e não certezas”. Ainda, segundo Detzel, não é possível prever quando um terremoto ocorrerá, mas apenas sinalizar que há tensões capazes de gerar tremores.
A lacuna sísmica no norte do Chile
Desde 1877 a região do Norte do Chile não era atingida por um abalo de magnitude acima de 8, valor a partir do qual os terremotos passam a ser chamados de mega terremotos. Essa nomenclatura é a tradução da expressão “megathrust earthquake”, a qual designa grandes tremores que acontecem em zonas de subducção, que são áreas de convergência de duas placas. Hans Detzel complementa que “geralmente estes "megathrust earthquakes” têm um tsunami associado.”
O Chile está localizado no encontro das placas tectônicas de Nazca e Sul-Americana, as quais sofrem um processo de subducção. Essas características tornam o país bastante suscetível a terremotos. No norte chileno, a lacuna sísmica gerou 9 metros de acumulação de escorregamento, sendo que parte dessa energia foi liberada no recente terremoto de 8,2 graus na escala Richter.
A atividade sísmica é constante nas demais áreas do país. Em 2010, um terremoto de magnitude 8,8 acompanhado de um tsunami atingiu a região central do Chile, causando mortes e destruição. O geólogo compara o preparo da população nos tremores do norte do Chile deste ano com o terremoto de 2010: “ É muito importante, por exemplo, ter sinais de áreas seguras no caso de um tsunami nas cidades costeiras. Nesse sentido o governo avançou bastante respeito ao terremoto do 2010, mas ainda há muito por fazer e educar”.
Mais informações: http://www.usp.br/aun/exibir.php?id=5867&edicao=1035