Odontopediatras recomendam a importância do acompanhamento odontológico precoce, logo no primeiro trimestre da gestação. Desde o começo da gravidez, a gestante deve visitar o cirurgião-dentista para realizar profilaxia e um exame clínico apurado em busca de alterações gengivais ou dentárias. O controle da saúde gengival é importante devido à associação entre infecções gengivais severas e aumento do risco de parto prematuro e pré-eclâmpsia.
O refluxo constante, comum no primeiro trimestre da gravidez, aumenta a chance de erosão dentária. Além disso, a dificuldade de se escovar os dentes aliada à má alimentação de muitas gestantes, pode propiciar maior risco de cárie. Os hormônios liberados durante a gestação também podem afetar a dentição da gestante por se acumularem no tecido da gengiva, predispondo a sua inflamação.
Apesar da importância, a procura de gestantes pelo tratamento dentário diferenciado ainda é rara e muitas mulheres não sabem dos riscos. Por todos esses motivos, a questão foi tema do I Congresso Brasileiro de Odontologia para Gestantes, realizado pela Faculdade de Odontologia da USP em 21 e 22 de março. Cerca de 200 profissionais participaram do Congresso.
Cuidados
O atendimento a essas pacientes requer alguns cuidados específicos. O dentista deve aferir a pressão arterial, agendar a gestante em horários específicos e posicioná-la na cadeira odontológica de forma correta. Segundo a professora Maria Salete Nahás Pires Corrêa, o profissional também deve abordar os aspectos psicológicos e as complicações que podem advir da ansiedade e medo na vida do feto na vida intrauterina.
Após o nascimento do bebê, o acompanhamento com o odontopediatra deve ser mantido. Segundo a professora Maria Salete, a primeira visita ao dentista deve ser feita com seis meses de idade, quando erupcionam os primeiros dentes. O profissional irá ensinar os pais como escovar os dentes, qual a pasta adequada (acima de 1.000ppm de flúor), qual a quantidade ideal a ser utilizada e a técnica correta de escovação. De acordo com a professora, não há necessidade extrema de higienizar a boca do bebê sem dentes, mas se ele for alimentado com leite artificial, a limpeza pode ser feita a partir dos três meses com o uso dos lenços específicos, gaze ou fralda umedecidos em água filtrada uma vez ao dia.
O odontopediatra também deve orientar a mãe sobre possíveis alterações que acontecem na boca de recém-nascidos, como alterações no freio da língua, que podem dificultar aleitamento e mesmo cistos. “A orientação sobre os riscos e benefícios do uso de chupeta e mamadeira é muito importante, de modo que, logo após o nascimento, os pais possam tomar a decisão baseados em informações corretas”, afirma Maria Salete.
Odontopediatria no sistema público de saúde
Programas municipais e estaduais se desenvolvem com o intuito de ampliar a atuação odontológica em gestantes e bebês. Além disso, as universidades públicas também atuam nesse sentido e oferecem tratamento curativo e preventivo.
Apesar de não ser o ideal, o Brasil caminha bem nesse atendimento. “Essa consciência dos programas de governo não são raras como se imagina. O mais difícil é conscientizar e preparar os profissionais para tomarem as condutas corretas sem receios”, ressalta Mara Salete.