A competitividade do leite no país, sua evolução recente e necessidades futuras. No último 25 de abril, no auditório do prédio FEA-5, em mais uma edição do Seminário Pensa (Centro de Conhecimento em Agronegócios), o assunto da vez foi pautado em torno de três ideias básicas, relacionadas à real existência de condições para que o país atinja a autossuficiência e se torne um exportador sustentável do produto, à discussão sobre o porquê do leite não conseguir avançar em escala e ao questionamento sobre como melhorar a coordenação do SAG (sistema agroindustrial) do leite no Brasil.
Entre os palestrantes, estavam o engenheiro agrônomo Roberto Jank, o diretor presidente da Cooperativa Castrolanda Frans Borg, o gerente executivo de Milk Sourcing René Machado e o médico veterinário Luiz Fernando Laranja. Segundo Jank, o Brasil é o país onde o consumo e a produção de leite mais cresceram, perdendo apenas para a China. Contudo, para ele, o profissionalismo, a escala e a eficiência não acompanharam essa evolução, e tem-se como exemplo o fato de os Estados Unidos possuírem 700 fazendas que produzem todo o leite brasileiro (33 milhões de litros) enquanto o próprio Brasil possui 1 milhão de produtores do insumo. “Precisamos melhorar qualitativamente, e não quantitativamente”, defende.
Mais tarde, foi a vez de Frans Borg iniciar as discussões em torno da cadeia de produção do leite. De acordo com ele, esta cadeia se inicia na genética, passa pelos insumos, a produção, a captação e a industrialização e termina na distribuição, tanto para o atacado quanto para o varejo, da mercadoria finalizada. A produção é o elo que se desenvolve mais lentamente e, por isso, é necessário investir na profissionalização do produtor e melhorar a assistência técnica oferecida a ele. Borg acredita que “se quisermos ser competitivos no setor, temos que equilibrar os fatores rebanho, alimentação e gestão e ainda favorecer o produtor”.
Já René Machado, por sua vez, enxerga que o setor industrial brasileiro é muito difícil e as empresas não conseguem ter sucesso. “As organizações que há 20 anos estavam entre as maiores compradoras de leite do país não existem mais”, exemplifica. Ademais, para ele, ao analisar a indústria de leite no país, é importante dividi-lo em “dois Brasis”: os estados da Região Sul são grandes produtores do insumo, maiores que a Argentina como um todo; no entanto, de forma geral, o país não impressiona tanto no quesito crescimento. Mas René dá a dica: “O futuro do leite no Brasil pode ser resumido em 5 S: sabedoria, sustentabilidade, sucessão, saneamento/saúde e ‘$ifrão’ [risos]”.
Ao final, Luiz Fernando Laranja encerrou os debates ao defender que o setor de produção de leite é robusto, e o desenvolvimento é consistente e constante. Ele cita também que o aumento no consumo de leite e derivados foi acompanhado pelo crescimento da renda média dos brasileiros e acredita que o Brasil tem potencial para ser competitivo, brigar no mercado internacional e eventualmente se tornar um exportador de leite. “Contudo, é necessário o combate à fraude [questão dos leites adulterados com soda cáustica] e atender às exigências do mercado”, pontua.