A ondansetrona, droga comumente utilizada para aliviar náuseas e vômitos de pacientes sob quimioterapia, apresentou resultados positivos em relação ao tratamento de alcoolismo, segundo recente estudo feito pelo Instituto de Psiquiatria (IPq) da Faculdade de Medicina da USP. O médico João Maria Corrêa Filho traz, por meio de sua pesquisa, conclusões promissoras sobre a eficácia do uso desse medicamento em dependentes de álcool com idades entre 18 e 60 anos. Além da análise do efeito da medicação, o pesquisador encontrou variáveis que auxiliam a evitar o abandono do tratamento.
Como haviam relatos de diminuição da vontade de beber ao ingerir o medicamento, o psiquiatra buscou avaliar qual dose seria mais eficaz para tratar o alcoolismo. Apesar de já existirem substâncias utilizadas contra a doença, como dissulfiram e acomprosato, Corrêa Filho afirma que “o grande problema dos tratamentos disponíveis é que nenhum deles é eficaz para todos os pacientes, apenas uma parcela deles pode usar”. A pesquisa foi elaborada em três etapas: teste da ondansetrona, investigação das variantes envolvidas na maior ou menor adesão ao tratamento e criação de uma tipologia capaz identificar os dependentes com grande risco de desistência.
Para a primeira parte, os 102 voluntários do sexo masculino foram separados em dois grupos, nos quais um foi medicado com a substância testada - prescrita em uma dose maior do que a usada para a quimioterapia - e outro com o placebo. “Durante duas semanas os pacientes passaram por uma desintoxicação e depois disso, junto com as 12 semanas de medicação, receberam psicoterapia, entrevista motivacional e oferecemos apoio no AA (Alcoólicos Anônimos)”, descreve o médico.
Segundo os resultados da pesquisa, a recepção da ondansetrona se mostrou positiva. Por meio disso, foi possível desenvolver uma tipologia com fatores determinantes para o abandono ou permanência no tratamento. A identificação das características do grupo com maior risco de desistência do processo se revelou a partir de quatro variáveis: histórico de alcoolismo familiar, idade do início dos problemas com álcool, intensidade de sintomas depressivos e gravidade de dependência.
Ainda que, em outros estudos, os mais jovens alcançassem as principais recuperações; o médico infere que a grande relevância da pesquisa com a ondansetrona se resume em uma conquista importante: “podemos tratar vários tipos de alcoolistas com o mesmo medicamento, só que em doses diferentes”. No estudo, Corrêa Filho destacou dois grupos relevantes na tipologia criada, em que um mostra o perfil mais propício ao abandono do tratamento e outro o com maior adesão. Indivíduos jovens, com histórico familiar de dependênca, maior gravidade da doença e menos sintomas de depressão se mostraram mais suscetíveis à desistência. Já fatores que potencializaram a conclusão do processo foram: idade mais elevada, preferência por cerveja e participação no grupo dos Alcoólicos Anônimos.