ISSN 2359-5191

27/05/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 14 - Sociedade - Escola de Artes, Ciências e Humanidades
Pesquisas relacionam hábitos de lazer com baixos investimentos no setor
Há diversas formas de lazer a serem experimentadas

A Revista Brasileira de Saúde Ocupacional aponta que o brasileiro gasta em média duas horas e trinta e sete minutos por dia com “Jogos, Passatempos, hobbies e esportes”. Porém, quando é necessário especificar as atividades, apenas 27 minutos são dedicados ao “Descanso e Relaxamento”. Já o Ministério da Saúde informa que mais de 40% dos brasileiros passam mais de três horas de seu tempo de lazer assistindo à televisão. Por outro lado, apenas 28,2% das pessoas utilizam o tempo livre para fazer exercícios físicos.

Há seis conteúdos culturais do lazer: os artísticos, os manuais, os intelectuais, os sociais, os físicos e mais recentemente os turísticos. O ideal seria que o indivíduo experimentasse todos esses conteúdos para ter diferentes vivências. Ricardo Uvinha, professor da EACH aponta que uma das definições mais comuns de lazer no Brasil é a de que ele é uma atividade descompromissada, voluntária e desligada das obrigações profissionais. No Brasil, há uma forte tendência aos conteúdos físicos, especialmente o futebol. Ele lembra que o brasileiro além de praticar, consome muito futebol, indo ao estádio, assistindo pela televisão.

O professor aponta os problemas da popularização das fontes de lazer. Apesar de ser um direito previsto na constituição, ele deixa de ser prioridade frente à saúde, educação, etc, porque a própria população não o reconhece como uma necessidade primária. Espera-se que o governo invista no lazer, mas o que ocorre é uma predileção pelas modalidades físicas, além de não se consultar a população local para saber o que ela quer (ao invés de uma quadra, a demanda pode ser por uma biblioteca, por exemplo). Segundo o IBGE, em 2010 o total de gastos públicos em cultura foi de R$ 7,25 bilhões, ante R$ 4,41 bilhões em 2007. Os Municípios têm os maiores gastos, chegando a 1,1% dos desembolsos, enquanto os Estados reservam 0,5% e a União apenas 0,1%. Para elucidar o quanto esse investimento tem caráter secundário, é possível comparar com o investimento em outras áreas. A Constituição exige, por exemplo, que os municípios apliquem ao menos 25% de sua receita resultante de impostos e transferências na manutenção e no desenvolvimento da Educação, uma porcentagem bastante superior à destinada à cultura e lazer. O SESC é um bom modelo de acesso ao lazer pela população, mas ainda é um exemplo isolado e pouco abrangente em relação à demanda.

Apesar de ser considerada uma atividade secundária, o lazer já foi muito valorizado em outras sociedades. Na Grécia antiga, por exemplo, o ócio era sinônimo de prestígio social, pois era praticado por quem não precisavam trabalhar. Além disso, era um momento mítico de relação com os deuses, de culto do corpo e do espírito, sendo por isso muito valorizado. A lógica protestante vai de encontro a esses conceitos, pois o momento de não trabalho não auxilia na acumulação de riquezas. O conceito de lazer surge após a Revolução Industrial, pois até então não havia uma separação clara entre o tempo de família, de lazer e de trabalho. Havia um embaçamento das fronteiras entre esses momentos, ou seja, no trabalho se convivia com a família e também havia diversão. Já na Revolução surge a imposição dos horários: para dormir, para comer, para trabalhar e também para descansar. Considerando a rotina extenuante de trabalho nas indústrias, é possível dizer que esse tempo “para descansar” já surgiu como não prioritário e não valorizado.

Considerando que muitos desses valores permanecem, parece estranho a crescente valorização do lazer e do turismo. O que ocorre é que as pessoas investem no seu lazer, e criou-se assim uma indústria em torno dele. A publicidade adota o lifestyle que concilia o lazer e o trabalho para promover seus produtos.

É importante ressaltar que é a atitude perante a atividade que vai determinar se ela é lazer ou não. A pesca pode ser um passa tempo para muitas pessoas, enquanto para outra é uma atividade profissional. Entretanto, é possível encontrar profissões em que a ideia de lazer e de trabalho se misturam, como a dos músicos. Esse “lazer sério” pode se manifestar em diversas profissões, desde que o praticante sinta prazer na sua atividade. Além disso, Uvinha lembra que apesar de a publicidade tentar transformar o lazer em objeto, impondo a necessidade de diversos equipamentos, a maioria das atividades pode ser praticada com um mínimo de materiais, sendo acessível para todos os públicos. 

Leia também...
Nesta Edição
Destaques

Educação básica é alvo de livros organizados por pesquisadores uspianos

Pesquisa testa software que melhora habilidades fundamentais para o bom desempenho escolar

Pesquisa avalia influência de supermercados na compra de alimentos ultraprocessados

Edições Anteriores
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br