São Paulo (AUN - USP) - Como democratizar a comunicação? Esse é o tema central do III Seminário Internacional Latino-Americano de Pesquisa da Comunicação, que teve início ontem na Universidade de São Paulo. O evento é formado, basicamente, por painéis, mesas-redondas e grupos de discussão (GDs), sendo que os últimos abrangem diversas áreas de comunicação.
Seguindo a tendência atual da pesquisa em comunicação, o GD que mais recebeu papers foi o intitulado “Como democratizar a Comunicação por meio da Educação?”, com 52 trabalhos. “Interessante ressaltar que não só aqui, mas também em outros eventos de comunicação, a relação comunicação-educação é a que mais desperta interesse nas pessoas. E isso é um fato novo. Há dez anos este tema estava em sexto lugar de interesse”, afirmou o professor Ismar de Oliveira Soares, organizador de tal GD e coordenador do Núcleo de Comunicação e Educação (NCE) da USP.
“A educomunicação estuda e desenvolve ecossistemas comunicativos em espaços educativos, mediados pelas tecnologias, tendo como objetivo a prática da cidadania através da democratização do acesso e do uso dos recursos da comunicação”, explicou Ismar. Assim, os papers de educação e comunicação foram divididos em sete grandes temas. Na quinta à tarde foram apresentados os trabalhos sobre: práticas educomunicativas e a democratização da comunicação; a mediação tecnológica na educação; e a questão da comunicação e de seus recursos em espaços educativos. Hoje pela manhã os campos serão: o uso da mídia na escola e a democratização da comunicação; democratização da comunicação, currículo e participação estudantil; reflexões epistemológicas sobre a relação comunicação e educação; e a educação para os meios e a democratização da comunicação.
As próprias palestras comprovam o fato de que a educomunicação se efetiva através do desenvolvimento e implantação de projetos. Por mais que grande parte dos trabalhos expostos fossem teóricos, vários se baseavam em estudos de casos e outros eram relatos de experimentações efetuadas, com as conclusões e problemáticas geradas pelas mesmas. Tornou-se bastante claro, para o espectador, que é necessária a criação de um diálogo entre comunicação, conhecimento e aprendizado para que o processo educativo possa ser mais eficaz e democrático. Portanto, a educomunicação propõe a quebra da estrutura rígida e hierarquizada das escolas atuais (onde o aluno é submisso ao professor, o qual, por sua vez, deve acatar às ordens do diretor), propondo a produção de conhecimento tanto pelo professor como pelo aluno, através da comunicação.
Histórico
Por mais que a prática da educomunicação se dê há cerca de 40 anos, sua denominação como campo específico de estudo é recente. “Nós do NCE definimos o conceito em 1999, a partir de uma pesquisa que fizemos em 12 países da América Latina”. Desde então, o conceito que surgiu na Universidade de São Paulo tem encontrado grande projeção internacional, pois passaram a ser reconhecidas práticas semelhantes em outras regiões.
“O fenômeno é mais forte na América Latina, mas também acorre na África e na Índia com bastante relevância. O oeste americano, na região da Califórnia, também é marcado pelo mesmo, pois lá existem muitas práticas com os mexicanos e com os negros usando a arte e a tecnologia com objetivo educomunicativo”. Basicamente, o surgimento da educomunicação na América Latina se deu devido ao grande movimento de reação às ditaduras e à luta por colocar certos temas na mídia, como meio ambiente e as questões raciais, da mulher e da criança. Assim a educomunicação já surgiu como uma grande obra da sociedade civil que se apoderou da comunicação.