São Paulo (AUN - USP) - Mesa redonda realizada na noite de quinta, intitulada “Experiências democráticas de políticas em comunicação em países da América Latina”, teve sua abertura com Alfredo Alfonso, da Universidad Nacional de la Plata, na Argentina, que expôs a experiência daquele país de um canal de televisão do governo de Buenos Aires, chamado Ciudad Aberta, emitido por sinal a cabo somente para a cidade de Buenos Aires. Ele constituiu uma realização singular, por estar inserido em um contexto de realização de produção cultural original e independente, mas ao mesmo tempo, ser do governo. A experiência constituiu-se de duas etapas, a primeira, iniciada em 2003, contou com experimentações de ordem horizontal, contrastante com o formato comum dos canais de televisão. Na segunda, iniciada em 2005, há uma pretensão de maior interatividade, cidadania ativa e políticas de inclusão. Pode-se perceber que há sim um modo de se produzir cultua sem muitos recursos, com a cidade como estúdio, criando-se um modelo distinto de televisão pública.
O caso boliviano
Em seguida, foi apresentada a experiência boliviana, por Erick Torrico, da Universidad Andina Simon Bolívar. O comunicador explicou os processos de desenvolvimento de políticas de comunicação e de sua discussão sistemática, que nos anos 70 ainda não existia. Em 1994, foi criada uma “detalhada política para acompanhar o processo de ampliação da participação democrática no país”, através da lei de participação popular.
Deste modo, pressões populares chamaram a atenção pública para as demandas locais de financiamento por parte dos setores de comunicação. A partir desse momento, definiu-se um estatuto para o apoio ao processo de desenvolvimento de novas tecnologias de comunicação. Além disso, setores da sociedade civil organizada, pressionam o governo para que as perspectivas sociais também sejam levadas em consideração.
Em decorrência de toda essa participação e pressão popular, também se iniciou um processo de abertura das fontes de informação do Estado, decorrente de uma iniciativa de transparência por parte da Resolução dos Estados Americanos. Colocada em vigor ano passado, o decreto reflete um processo presente na América Latina, que pretende que o cidadão realmente tenha acesso a toda informação que lhe é disponibilizada. Porém, ao mesmo tempo em que se discute essas iniciativas do governo, além de não haver uma política globalizadora organizada, há um questionamento, especificamente no caso da Bolívia, por parte dos jornalistas, que acreditam que toda a informação realmente deve ser de livre acesso, sem ressalvas, como no caso de informações de caráter estratégico. Erick conclui: “Isso reflete a necessidade pelo menos de políticas sociais de comunicação; a lógica mercantilista atual deixa de lado temas sociais e culturais, dando preferência aos político-econômicos, aumentando a tensão entre governo e setores sociais”.
As rádios comunitárias colombianas
Esmeralda Uribe, da Universidad Autónoima de Bucaramanga, Colômbia, apresentou a experiência de seu país com rádios comunitárias e a grande importância destas na região de Magdalena Médio, zona de intenso conflito do país, sujeita a diversos grupos armados, traficantes e guerrilhas, além de intensa intervenção internacional. A região também conta com um grande intercâmbio de culturas e intervenção de diversas instituições e organizações com propostas de desenvolvimento. Deste modo, as rádios comunitárias apresentam um papel muito importante no modo como essa região entende a comunicação, por integrarem e dinamizarem as relações sociais, além de fortalecerem a noção de autonomia, liberdade e construção de um público e da cidadania.
É lógico que devido aos enclaves políticos do local diversas pressões e ameaças são sofridas, mas o papel das rádios fortalece as associações comunitárias, somando esforços para superar as dificuldades existentes. Portanto, as experiências radiofônicas funcionam como um canal para o exercício da cidadania e da liberdade de expressão.