São Paulo (AUN - USP) - Museus, cinemas, centros culturais e teatros. A infinidade de opções e a facilidade de acesso ao consumo de produtos culturais e de entretenimento são visíveis em nossa sociedade. Mas, será que essa forma de comunicação é acessível a todas as classes e a todas as pessoas? Visando responder essa questão foi discutido nessa manhã (12/05) no III Seminário Internacional Latino Americano de Pesquisa da Comunicação a real democracia que envolve esse campo.
O debate começou com a exposição do artista plástico Roberto Bertani que tratou das verdadeiras intenções dos empresários em patrocinar a divulgação cultural. “No Brasil, o empresariado não tem o habito de criar e ajudar instituições de caráter cultural em benefício da sociedade. Pelo contrário, a maioria das instituições culturais brasileiras é mantida direta ou indiretamente (por incentivo fiscal) pelo poder público, sejam eles fundações, universidades, bibliotecas, centros culturais ou museus”. Bertani falou, inclusive, sobre o Instituto Cultural do Banco Santos, projeto desenvolvido por ele em 2002, que tinha como objetivo dar credibilidade e visibilidade ao novo banco na época. “Mas com essa delicada relação com o capital, esse projeto de mídia acabou se desvirtuando dos seus objetivos iniciais”, relata. A indústria cultural, portanto, se distancia das necessidades reais e imediatas do povo e passa a configurar apenas status aos seus “mecenas”.
Trabalhando também a visão de “para quem” é destinada a produção cultural, a museóloga Marília Xavier Cury tratou de um estudo de caso da relação produção/recepção da exposição de arqueologia regional, em Ouroeste (SP), no Museu Água Vermelha. Por meio da interpretação de dados qualitativos, Cury avaliou a interação e a compreensão dos significados das mensagens da exposição pelo público estudantil que visitou a mostra. Com isso, frisou a importância dos organizadores de circuitos culturais pensarem no dia-a-dia e no interesse do público que irá a suas exposições. “A recepção é um processo que se consuma no cotidiano de vida dos receptores, pois é no cotidiano de vida que as mensagens ganham sentido e onde os significados circulam”, afirma a pesquisadora.
Na indústria do entretenimento, a historiadora Gêisa Fernandes D’Oliveira destacou as histórias em quadrinhos (HQs) como importante veículo da democratização na comunicação. “A linguagem híbrida adotada nos HQs constitui uma via alternativa da construção da realidade. Ao envolver textos e imagens, seu alcance abrange vários perfis e classes sociais. Até mesmo pessoas analfabetas podem apreender informações dos quadrinhos”, conclui a pesquisadora.