Um compósito à base de guta-percha e vidro niobofosfato bioativo é um nova alternativa para se realizar tratamento de canal. Ele é utilizado na obturação endodôntica para preencher o canal sem necessidade de uso de cimento por ser autoadesivo, além de possuir características antimicrobianas. Isso o difere dos atuais materiais utilizados e potencializa as chances de sucesso do tratamento.
O composto foi desenvolvido pela pesquisadora da Faculdade de Odontologia da USP, Ceci Nunes Carvalho em sua tese de doutorado, orientada pelo professor Giulio Gavini. O motivo da pesquisa foi “o grande número de insucessos em casos de tratamento de canal bem conduzidos, mas que falharam justamente por depender de um selamento coronário também eficaz”, explica Ceci.
Quando a restauração falha e sofre algum tipo de infiltração, o tratamento de canal corre grande risco de falhar também, pois a contaminação pode alcançar o sistema de canais radiculares. As falhas ocorrem principalmente devido a uma ineficiente restauração da coroa após o procedimento endodôntico ou à demora em restaurar o dente após o término do tratamento. Os erros podem levar a uma recontaminação bacteriana e, consequentemente, ao comprometimento do procedimento e até perda do dente.
Por isso, faz-se necessário um material que seja autossuficiente em relação ao selamento e não dependa de outras etapas de tratamento odontológico após o tratamento de canal. “Ele é mais fácil de ser utilizado no dia a dia do cirurgião-dentista e possui propriedades melhoradas”, complementou a pesquisadora.
Vale ressaltar que a obturação do canal radicular é de extrema importância para o sucesso do tratamento de canal, pois ele sela o sistema e estimula o reparo apical e periapical subsequente ao tratamento. A obturação endodôntica tradicional com guta-percha e cimento não adere idealmente à dentina e, por isso, não se comporta mecanicamente como uma unidade homogênea.
Já o material desenvolvido na pesquisa utiliza vidros fosfatos bioativos associados a uma matriz polimérica com capacidade de induzir a produção de minerais através da liberação de diferentes íons.
A associação do vidro niobofosfato bioativo com guta-percha fornece um selamento imediato, posteriormente reforçado pela formação de hidroxiapatita (mineral composto por fosfato de cálcio presente no esmalte dos dentes) entre a dentina e a obturação. A liberação de íons fosfato e cálcio livres auxilia a regeneração óssea durante a cicatrização periapical.
O desenvolvimento do material foi realizado no Instituto de Pesquisa Energéticas e Nucleares, com a supervisão do professor José Roberto Martinelli, que detém a patente do vidro bioativo. A influência do composto na adesão e formação de biofilme por bactérias orais foi avaliada na University of British Columbia, no Canadá. “Com essa parceria conseguimos desenvolver um material inovador e testar as propriedades importantes”, conclui a pesquisadora.