Estudo feito por Alexandre Navarro, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, ao analisar cães com displasia e osteoartrose secundária a partir de sessões de tratamento por ondas de choque extracorpóreo (Toce), mostrou a eficácia desse procedimento tanto na melhora da locomoção dos animais, com métodos quantitativos de análise cinética, quanto na diminuição da dor, constatada por avaliação cega. “São ondas mecânicas, e não elétricas, que não vão só favorecer a reparação tecidual, vão também reduzir o estimulo nervoso da dor”, explica Alexandre.
Por não possuírem cura, tanto a displasia quanto a osteoartrose são tratadas inicialmente de maneira conservativa antes que o animal seja levado à sala de cirurgia. A pesquisa, então, buscou um método não invasivo que pudesse atuar na recuperação do animal e que não somente evitasse que o grau da lesão piorasse. Para a regeneração da cartilagem, que tende a se degenerar mais do que se reparar, o tratamento usou as ondas de choque porque, como já havia sido comprovado em outros estudos, elas aumentam o potencial regenerativo das células. Além disso, o Toce também evita, de maneira até melhor que alguns medicamentos conservativos, que o tecido se degenere ainda mais. Por fim, as ondas de choque denervam as fibras de dor, o que faz com que os animais sintam menos incômodo ao se locomoverem.
A displasia coxofemoral é a doença ortopédica hereditária mais comum em cães, e que tem como característica a instabilidade na articulação coxofemoral. A dor é causada por essa incongruêncial articular e pela degeneração da articulação. A doença atinge todas as raças de cães, mas principalmente as maiores, que têm crescimento rápido.
A osteoartrose, também caracterizada pela degeneração na cartilagem articular, aparece com o envelhecimento do animal. Como a cartilagem perde a capacidade de absorver e distribuir as forças às articulações, ela se torna alvo de lesões. Cerca de 20% dos animais idosos apresentam sinais da doença.
Efeitos benéficos para locomoção
Como não age como uma cura nem para a displasia, nem para a osteoartrose secundária, o tratamento feito nesse estudo provavelmente teria que ter alguma manutenção em certos períodos de tempo que dependeriam da resposta de cada animal. Apesar disso, o procedimento mostrou uma melhora nos animais mesmo quando o efeito do tratamento estaria no fim. “Alguns autores verificaram a denervação [retirada] de fibras nervosas com reinervação [reaparecimento] posterior. Contudo, de acordo com outros autores, o efeito inibitório da onda choque sobre a percepção dolorosa pode ser muito mais duradouro tempo”, explica o pesquisador. Ou seja, as fibras de dor reinervam, mas não voltam à fase crônica e permanente do início das sessões, e o animal volta a sentir a dor, mas não tão forte quanto era no início do tratamento.
A pesquisa, que envolveu 30 cães com grau severo e moderado de displasia coxofemoral que não estavam respondendo positivamente à medicação conservativa, ainda conseguiu evitar, por algum tempo, que aproximadamente metade dos cães analisados fossem submetidos à cirurgia. Mesmo nos outros animais em que o tratamento com ondas de choque não foi suficiente, Navarro sentiu uma alteração positiva na resposta deles à operação. “Senti que eles ficaram melhor do que se tivessem sido submetidos diretamente à cirurgia. Como muitas fibras de dor são retiradas, existe a possibilidade de um animal com o grau de dor menor ter maiores chances de sair da operação com sucesso”, arrisca.
Mesmo com todos os resultados positivos e tendo efeitos que durariam uma estimativa de seis meses a dois anos dependendo da resposta do animal, o tratamento ainda precisa ser mais estudado, de forma que se torne mais acessível aos pacientes. Segundo Navarro, os equipamentos necessários são caros e cada sessão giraria em torno de R$ 300 a R$500.