ISSN 2359-5191

06/06/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 21 - Meio Ambiente - Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas
Brasil aponta para novo cenário no uso da terra
Últimos dez anos registram desligamento entre aumento da área plantada e desmatamento no País
Produção agropecuária brasileira aumentou sem que houvesse aumento do desmatamento (Foto: Margi Moss/Projeto Brasil da Águas)

Uma revisão do contexto do uso da terra no Brasil para a edição de janeiro da revista Nature Climate Change apontou para uma mudança no sistema de utilização do solo no país. O tema foi apresentado no seminário "Transição generalizada do sistema brasileiro de uso da terra" do Departamento de Ciências Atmosféricas do IAG por David Lapola, do Instituto de Biociências da Unesp de Rio Claro. A principal mudança é o fato de a produção agropecuária ter aumentado sem que houvesse um respectivo aumento do desmatamento.

A revisão do artigo demonstrou que o desmatamento diminuiu desde o início dos anos 2000, e que esse fenômeno tem acontecido em todos os biomas brasileiros. David Lapola comenta que um dos aspectos positivos do desacoplamento entre expansão agrícola e desmatamento é o aumento da produtividade, uma vez que agora se produz mais no mesmo espaço de antes. 

Segundo o ecologista, a produção de commodities como soja, cana e milho aumentou em termos de área, enquanto que cultivos como arroz e feijão passaram a ocupar menores extensões, mas mantiveram sua produção.

Apesar do aumento da produtividade, um lado negativo do desacoplamento, de acordo com Lapola, é o agravamento no padrão de distribuição de terras, se comparado com contagens de anos anteriores. “Apesar dessa intensificação e comoditização da agricultura brasileira, o padrão de distribuição de terras tem se agravado, com os grandes fazendeiros detendo cada vez mais terras e os pequenos produtores migrando da zona rural para urbana”, afirma David Lapola. 

Segundo dados do IBGE, mais de 50% das fazendas consideradas pequenas (até 10 hectares), não ocupam nem 5% da área agrícola do país. Por outro lado, fazendas de grande porte (mil hectares ou mais) representam somente 1% do número de fazendas do Brasil e ocupam mais da metade das terras cultivadas do país.

David Lapola coloca a bancada ruralista como causa subjacente para a mudança no contexto do uso da terra no Brasil. A facilitação de crédito para o agronegócio proporcionou a modernização da produção do país, mas acabou por acentuar ainda mais a desigualdade entre pequenos e grandes produtores. Apesar disso, Lapola acentua que a atuação da bancada ruralista não pode ser vista apenas por um viés negativo, pois em muitos aspectos ela pode proporcionar uma aproximação entre ciência e política. “Eles causaram bastantes problemas na área ambiental, mas a gente precisa deles para resolver os problemas pendentes ainda”, completa.

Após a análise do contexto atual do uso da terra no país, o artigo propôs a reforma agrária como um dos meios de buscar uma produção agrícola sustentável, preservando a biodiversidade e dando continuidade ao crescimento da produção. “Enquanto não resolver o problema da reforma agrária, a agricultura brasileira não vai demonstrar seu pleno potencial”, defende o ecologista.

David Lapola conclui apontando os obstáculos que o país enfrenta para atingir uma agropecuária sustentável: “Talvez as duas maiores dificuldades estejam em fazer uma reforma agrária ampla e irrestrita e fazer com que as tecnologia voltadas à sustentabilidade no campo possam transitar de forma mais rápida e eficiente das instituições de pesquisa para o campo.”

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