A terapia antirretroviral é um dos passos fundamentais para melhorar a qualidade de vida daspessoas que vivem com HIV/aids, além de ter se mostrado eficiente na redução da transmissão do vírus. Porém, para que esse tratamento seja efetivo, é necessário também o comparecimento às consultas marcadas, ou seja, depende da adesão do paciente a ele. A partir disso, Delsa Nagata,enfermeira de formação, atuando como administradora hospitalar, produziu sua tese para a Faculdade de Medicina da USP, onde analisou o perfil dos pacientes que faltaram às consultas agendadas de infectologia no Serviço de Extensão ao Atendimento de Pacientes HIV/Aids – Casa da Aids, serviço da Divisão de Moléstias Infecciosas e Parasitárias do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Delsa conta que, depois que começou a estudar o paciente que falta às consultas, pode observar que fora do Brasil haviam vários trabalhos sobre esse assunto. Identificou, em alguns trabalhos, que os jovens faltavam mais e, em outros, mulheres. Um grande trabalho produzido na China identificou que idosos faltaram mais. E ainda outro, produzido na Coréia, identificou que as pessoas com HIV que faltam, tem mais risco de se internarem e de irem à óbito quando comparados aos que não faltam.
A falta à consulta é uma questão importante no contexto de assistência com o paciente comHIV/aids, pois o paciente deixa de receber informações e orientações com relação ao tratamento e à medicação antirretroviral.“Depois que eu fiz esse projeto, o que eu identifiquei é que o médico infectologista quando cuida de um paciente jovem, deve dedicar uma atenção maior, porque jovem falta mais”, afirma Delsa. E, ainda,entre os pacientes que faltam, há também uma menor retirada de medicamentos antirretrovirais. Se eleretira menos medicamento, implica que ele não esta tomando o medicamento de forma adequada.
Dessa forma, além de não se tratar, pode ainda estar com uma quantidade maior do vírus do HIV no corpo e, assim, pode estar transmitindo o vírus para outras pessoas. A pesquisa utilizou dados de pacientes de 2007. Foram incluídos 3075 pacientes adultos com HIV/Aids, sendo 70 % homens. O mais velho tinha 81 anos e omais novo, 18. Delsa pode observar que os pacientes que faltaram mais eram jovens, os quefrequentara m o serviço de serviço social, psicologia e psiquiatria, e que passaram por internação hospitalar no Instituto Central do HCFMUSP. Na Casa da Aids, depois de uma sequencia de faltas, o médicopedia ao serviço social que entre em contato com o paciente para fazer a busca ativa do faltoso ou para verificar caso o paciente esteja internado, se ocorreu algum problema ou até se foi a óbito.
Essa pesquisa tem uma grande importância no sentido de assistência aos pacientes que vivem com HIV/aids. “A pesquisa foi feita com dados de agendamento de consultas e atendimentos, que nos serviços de saúde, são utilizadas para fins administrativos de produção e faturamento, neste projeto, foi possível identificar características de pacientes que faltaram às consultas de infectologia. A partir do momento que o médico identifica qual é o perfil que falta mais, o paciente só tem ganho. O médico pode ficar atento aquele determinado grupo de paciente que é mais vulnerável”, reforça Delsa.