Os professores Reinaldo Brito e Dias e Neide Pena Coto, ambos da Faculdade de Odontologia, lançaram recentemente o livro Odontologia do esporte - uma abordagem multiprofissional, que tem como foco a saúde bucal do atleta e sua relação com a saúde geral e desempenho físico. Para os professores, é preciso situar o cirurgião dentista como integrante da equipe de profissionais de saúde que atendem os atletas de diversas modalidades.

O cuidado odontológico para praticantes de esportes ainda é uma prática secundária, ou mesmo ignorada. “A interação multiprofissional entre a odontologia e as áreas afins, evidenciou a importância e o rigor do tratamento odontológico no atleta, pois nos dias de hoje, uma fração de segundo pode determinar a sua conquista. Não há possibilidade de se isolar a boca do resto do corpo”, enfatizam os professores. A valorização do esportista profissional exige preparo individual e trabalho com foco nas habilidades e dificuldades apresentadas pelo atleta.  

O livro é dividido em 14 capítulos e aborda os seguintes temas: arquitetura da face, influência da saúde bucal no organismo, como a infecções e obstruções buco-faciais afetam o desempenho físico, traumas faciais e protetores, respostas hormonais e imunológicas com base na utilização da saliva, além de tratar de dopagem, alimentação, fonoaudiologia, fisioterapia e psicologia envolvendo aspectos odontológicos.

Influência da saúde bucal na saúde geral do atleta

De acordo com o livro, o atleta não é um paciente comum. Se os micro-organismos provenientes de infecções bucais transitam pelo organismo causando danos a regiões distantes da boca, nos atletas isso acontece com maior velocidade, por conta do metabolismo muscular mais acelerado.

As infecções da cavidade oral podem causar problemas sistêmicos. Cerca de 400 micro-organismos vivem na cavidade oral em equilíbrio. Porém, se um desequilíbrio ocorre, a interação das espécies pode desencadear consequências em outras regiões do corpo, como doenças cardíacas, respiratórias, articulares, diabetes e comprometimento na recuperação de lesões musculares. Trata-se da teoria da infecção focal, “uma infecção localizada causada pela disseminação de micro-organismos ou de seus produtos tóxicos vindos de um foco de infecção oral, que pode ser decorrente de comprometimento endodôntico ou de problemas periodontais”, conforme os autores.

As bactérias presentes em processos inflamatórios gengivais, quando entram na corrente sanguínea, chegam a órgãos vitais e de grande importância para o atleta, podendo causar problemas cardiovasculares. Já as bactérias que vivem na placa dental provocam inflamação nas artérias. Essa inflamação pode causar estreitamento da via e coágulos que bloqueiam as artérias e privam o tecido coronário de oxigênio, levando à endocardite bacteriana e asterosclerose (acúmulo de material gorduroso nas paredes das artérias).

A área que pesquisa os desdobramentos das doenças orais em diversas outras patologias, como as citadas acima, vem crescendo e deixa um recado: é preciso trazer a boca de volta ao corpo.