ISSN 2359-5191

27/06/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 31 - Economia e Política - Escola de Educação Física e Esporte
Falta de planejamento e transparência compromete legado da Copa
Estádio Mané Garrincha custou R$ 1,015 bilhão / Fnnte: portal2014.org.br

O evento de junho é um tema comum nos protestos ocorridos no país, e as críticas recaem sobre os custos e o legado do evento. O total gasto soma cerca R$ 25,6 bilhões nas cidades-sede. Os investimentos em infra-estrutura foram cerca de R$ 17,6 bilhões, sendo R$ 8 bilhões em mobilidade, R$ 6,3 bilhões em aeroportos, R$ 1,9 bilhão em segurança, R$ 200 milhões em turismo, R$ 600 milhões em portos, R$ 400 milhões em telecomunicação e R$ 200 milhões em outras instalações. O gasto com os estádios foram cerca de R$ 7,1 bilhões, segundo dados do próprio governo. 

Para Ary José Rocco Júnior, professor da Escola de Esporte e Educação Física (EEFE),  nós perdemos a oportunidade de planejar o que nós gostaríamos que esses dois eventos deixassem de legado, o que impede também que desfrutemos de benefícios futuros. Inegavelmente, esses eventos trazem visibilidade para o país, o que atrai investidores e patrocinadores. A nossa falta de planejamento impediu que usássemos financiamento estrangeiros para promover os eventos. Assim, caberia ao governo financiar as obras de infra-estrutura, como metrô e sinalização, e para a construção de estádios poderia haver parcerias. Um exemplo é o que ocorre com o Palmeiras, que se juntou com uma empresa privada para construir um estádio (que está fora da Copa do Mundo), mas que é embasado em investimentos privados.

Outro ponto abordado pelo professor é a falta de transparência sobre os investimentos no mega evento. Essa falta de contato entre a sociedade e o governo faz com que muitas pessoas questionem a origem dos recursos, criticando a prioridade dada aos gastos (investimentos na Copa ao invés de saúde ou educação). Falta clareza sobre “quanto” e “onde” se investiu o dinheiro, e, principalmente, de onde ele veio. 

 Segundo dado da BBC, o Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) financiou boa parte dos estádios com linhas de crédito a juros subsidiados. Na maioria deles, os empréstimos foram tomados por governos estaduais – cujo pagamento se dará com dinheiro público. Cerca de um terço do valor das obras (R$ 8,7 bilhões) está sendo financiado por bancos federais – Caixa Econômica Federal, BNDES e BNB (Banco do Nordeste do Brasil). 

Além disso, as obras da Copa também consumirão R$ 6,5 bilhões do orçamento federal e R$ 7,3 bilhões de governos locais (estaduais e municipais). Dos R$ 28,1 bilhões, apenas R$ 5,6 bilhões serão recursos privados (que se concentram, principalmente, nos aeroportos). 

Comparação com as outras Copas 

Segundo dados do UOL, na África do Sul a Fifa teve uma receita histórica de US$ 3,8 bilhões (R$ 8,9 bilhões), sendo que US$ 1,7 bilhão (R$ 4 bilhões) foi gasto na organização do torneio. O lucro foi 48% maior do que o obtido no Mundial de 2006, disputado na Alemanha. 

A estimativa é que o lucro no Brasil o lucro seja ainda maior, chegando a US$ 4 bilhões. Até agora, a entidade ainda não confirmou oficialmente qual será o repasse para investimentos em projetos no Brasil, mas espera-se algo em torno de US$ 20 milhões. 

Legado 

Para Rocco, a tendência é que o legado não seja muito negativo, mas perdemos a oportunidade de deixar um legado extremamente positivo. O governo não teve um bom planejamento para divulgar os eventos nem internamente nem externamente. Por isso, o impacto deles deve se restringir mais ao campo esportivo. "O turista que vier vai se deparar com belas arenas, mas com cidades caóticas, com transporte público deficiente, dificuldade de comunicação" diz. Assim, perdemos a oportunidade de tornar o país mais atrativo para o turismo, além dos motivos que já eram conhecidos, como a beleza natural, a gastronomia, etc. Isso porque um dos objetivos de grandes eventos como esse é o de tornar o país interessante para turistas depois que os eventos acabarem. 

Um bom exemplo disso foi a Copa de 2010, sobre o qual o professor conta que no jogo da final, a cidade de Johanesburgo estava caótica: "O estacionamento era de terra e o estádio era belíssimo". É preciso pensar em que legado isso deixou para o país, já que alguns dos estádios estão sendo subutilizados, com a possibilidade de serem demolidos. Os estádios de Durban e da Cidade do Cabo viraram verdadeiros elefantes brancos. Assim, o professor infere que o país não beneficiará a economia com o evento na mesma proporção em que os coreanos fizeram em 2002, mas verá mas resultados do que os sul africanos.  

Após o Mundial, a Fifa criou o "2010 FIFA World Cup Legacy Trust" para investir no esporte e em ações sociais na África do Sul, repassando US$ 100 milhões para o projeto. Do montante, R$ 30 milhões foram gastos na construção da sede da Safa (Federação Sul-africana de Futebol). Embora não haja confirmações, espera-se que os investimentos em projetos no Brasil fiquem em torno dos US$ 20 milhões.

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