ISSN 2359-5191

30/06/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 32 - Sociedade - Instituto de Psicologia
Desempregados disfarçam sua condição nas redes sociais
Desempregados constroem imagens de si em redes sociais na tentativa de mascarar seu sofrimento
Redes sociais no alívio da ferida narcísica

Em redes sociais, sujeitos desempregados constroem imagens de si na tentativa de mascarar seu sofrimento pela situação em que se encontram e passar a imagem de que desfrutam a vida da mesma maneira que os demais. Por estarem fragilizados, têm aumentado o desejo natural de reconhecimento alheio. É o que explica o doutor em psicologia social Antônio Carlos de Barros Jr.: “As redes sociais são a própria expressão da sociedade do espetáculo narcísico em que vivemos e a qual ajudamos a construir como sujeitos. Essas redes virtuais são um dos palcos ideais para a encenação do nosso gozo imagético, que caminha lado a lado com o nosso desejo de reconhecimento do outro.”

Para Antônio, a sociedade atual, baseada em aparências, reduz o sujeito a uma simples mercadoria que precisa ser atraente como objeto de desejo do outro. Seja nos relacionamentos pessoais, nos profissionais, no ambiente acadêmico, no do entretenimento ou em qualquer outro, as escolhas do “consumidor” passam a ditar as características do indivíduo.

Para manter-se “vendável” no mercado de trabalho é preciso ter polivalência, múltiplas qualificações e capacidade de se adaptar rapidamente a mudanças nas atividades exercidas. A busca por produtividade e excelência também é uma tentativa de afastar o risco de descartabilidade a que os trabalhadores estão sujeitos.

Assim, redes sociais como LinkedIn e Facebook funcionam como uma vitrine virtual em que milhões de sujeitos tentam chamar a atenção para si, através da divulgação de fotos de momentos felizes, currículo invejável, número de contatos ou quantidade de curtidas em uma publicação. Dessa maneira tentam construir uma imagem própria para o outro na esperança de ser reconhecido, admirado e até invejado por este. “Numa sociedade em que parecer ser ou parecer ter costuma contar mais do que realmente ser alguém ou ter, de fato, algo, a questão da imagem de si que o sujeito constrói para o outro e através dele torna-se central”, acrescenta Antônio.

As redes sociais podem representar, para os desempregados, a esperança de alívio da ferida narcísica que a demissão ou o simples estar desempregado significam para eles, justamente por ser um lugar social indesejável (sobretudo se estiverem nessa condição por muito tempo). O alívio se dá na tentativa de conseguir um novo emprego pelo LinkedIn, aparentar bem-estar no Facebook e até mesmo afastar a angústia de se sentirem excluídos da sociedade em que vivem. Porém, na tentativa de se constituir como objeto de desejo do outro, o indivíduo se torna alienado em relação ao seu próprio desejo de reconhecimento alheio e à impossibilidade de realização plena desse desejo. Também se aliena frente ao sistema capitalista em que está inserido e o qual ajuda a manter. “Sistema [capitalista] que estimula o desejo de reconhecimento do outro e o narcisismo de seus sujeitos como forma de acúmulo de capital para os que estão à frente dele (os donos do Facebook ou do LinkedIn, por exemplo), como forma de ampliação de seu gozo, expropriado do outro”, completa Antônio.

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