A princípio, tatuar o corpo era uma forma de identificação coletiva entre os marginalizados. Posteriormente, roqueiros e punks se apropriaram da prática da tatuagem como uma forma de negarem os padrões e reafirmarem uma postura subversiva frente ao sistema. Hoje em dia, a prática marca características de estilo do indivíduo.
Richard de Oliveira apresentou no Instituto de Psicologia da USP seu trabalho a respeito de um tipo de arte que foge dos padrões eruditos, a tatuagem. Seguindo uma linha do tempo, Richard descreve como os marinheiros inseriram a tatuagem na nossa civilização após se encantarem com os desenhos que cobriam a pele de aborígenes. Porém eles não recriaram as imagens vistas e sim se utilizaram de figuras de seu próprio universo, como navios, âncoras e mulheres.
Falando de Brasil, Richard afirma que, a partir, da década de 80 a tatuagem passa a perder seu caráter marginal e se desvincular de questões sociais, dessa maneira se desenvolve artisticamente e passa a habitar museus e clínicas. Nos dias de hoje, a tatuagem encontra-se comumente atrelada a uma visão estética de consumo que visa situar o estilo e a personalidade do indivíduo dentro de uma sociedade sempre em transição.
Os tatuadores conceituados que foram analisados durante a pesquisa, consideram seu trabalho como arte e enxergam de maneira negativa a banalização da tatuagem por perverter o que acreditam ser seu objetivo, o da singularidade.
A doutoranda Solange de Oliveira também apresentou sua pesquisa sobre o trabalho do artista Bispo do Rosário, representante da Arte Bruta no Brasil. Arte Bruta é como é chamado o trabalho artístico produzido fora do sistema tradicional e profissional. Sendo por vezes considerado mais autêntico e verdadeiro do que a arte dita erudita, uma vez que é desenvolvido por crianças, criminosos e doentes mentais que não visam a fama ou o lucro, esses trabalhos são espontâneos e imaginativos.
Bispo, nascido no Sergipe em 1909 apenas 21 anos após a abolição da escravatura, era negro e sofria de distúrbios psiquiátricos. Passou grande parte de sua vida como interno em hospitais psiquiátricos onde desenvolveu a maioria de suas obras. Muito religioso, afirmava produzir miniaturas deste mundo para mostrar a Deus na hora da passagem.
Segundo Solange, de maneira ritual Bispo desfiava delicadamente os uniformes e lençóis dos hospitais para criar outras formas e bordados em rememoração da arte sergipana. Por suas origens e condições sociais e psíquicas, foi completamente excluído da sociedade, mas se recusou a ser conivente com as formas que o marginalizaram reorganizando o mundo que o marginalizou.