ISSN 2359-5191

11/07/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 39 - Meio Ambiente - Instituto de Biociências
Pesquisa aponta prós e contras para sobrevivência e reprodução em pequenos mamíferos
Análise da ação atrópica e do seu efeito sobre as populações de pequenos mamíferos permite a criação de melhores políticas de preservação
Gracilinanus microtarsus

Nos dias de hoje, a elevada ação antrópica sobre o território das florestas tem afetado catastroficamente a dinâmica populacional da fauna e flora locais. Com essa noção em mente e a fim de entender os fatores que levam à variações no tamanho de cada população animal, Camila dos Santos de Barros, doutora em ecologia pela Universidade de São Paulo, se propôs a analisar a ecologia de populações de pequenos mamíferos, roedores e marsupiais da Reserva Florestal do Morro Grande.

Constituindo um trecho remanescente da Mata Atlântica brasileira ainda preservado, a Reserva Florestal do Morro Grande faz parte da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde de São Paulo, atingindo uma área total de 10 870 hectares dentro do município de Cotia, no estado de São Paulo. A reserva possui fauna e flora diversificados e ainda pouco estudados e hoje em dia encontra-se sob jurisdição da Sabesp, em função dos mananciais que abriga em seu território. “Escolhi o bioma da Mata Atlântica por sua enorme diversidade de espécies de pequenos mamíferos, os quais desempenham papéis ecológicos importantes nestas florestas, sendo dispersores de sementes e fungos, e predadores de sementes e plântulas”, explica Camila. “Contudo, ainda há muitas lacunas no conhecimento das espécies já que o conhecimento sobre as populações avança lentamente em relação à velocidade da degradação”.

A compreensão da dinâmica populacional de uma região ou bioma é fundamental para a conservação da biodiversidade, dado que antes da extinção completa de uma espécie há o desaparecimento crescente de suas populações. Dessa forma, torna-se importante o entendimento dos fatores que contribuem para a alteração do tamanho populacional nesses grupos, compreendendo os parâmetros responsáveis por este fenômeno. Um parâmetro populacional importante para os pequenos mamíferos, por exemplo, é a reprodução, que não só contribui para o tamanho da população, mas também pode afetar a condição corporal e a probabilidade de sobrevivência. Devido aos altos custos energéticos requeridos pela reprodução, esta é freqüentemente associada à disponibilidade de recursos, que por sua vez é, na região tropical, altamente correlacionada com as condições climáticas, especialmente a chuva. “Um dos objetivos da tese foi, portanto, compreender como as condições ambientais afetam a dinâmica de populações, especialmente a sobrevivência e reprodução; mais especificamente, como as condições climáticas afetam a demanda conflitante (trade-off) entre a sobrevivência e reprodução e quais são as gatilhos ambientais do início da reprodução”, explica Camila.

A obtenção de dados de boa qualidade sobre as populações de forma eficiente é fundamental para vários estudos de ecologia e de conservação. Para coletar dados de pequenos mamíferos é necessário que estes sejam capturados utilizando armadilhas, havendo diferentes tipos de armadilhas que podem ser utilizados. “Dessa forma, outro objetivo da tese foi compreender como o tipo de armadilha, características individuais e condições climáticas interagem para determinar o sucesso de captura, visando à definição de protocolos de captura eficientes para a amostragem de pequenos mamíferos”, contou.

A pesquisa traz, ainda, uma certa inovação nos estudos ecológicos na região neotropical. São expostas evidências de um trade-off (troca benéfica) entre a sobrevivência e a reprodução animal em roedores, foi observado o fato de que no período com maior disponibilidade de recursos há uma diminuição da taxa de sobrevivência e não há uma alteração na condição corporal dos indivíduos, ao contrário do que seria esperado para essa condição (embora haja um aumento na frequência de fêmeas reprodutivas). Assim, a inovação no estudo encontra-se justamente na ocorrência do fenômeno em uma região de climas mais quentes e úmidos (neotropical), ao contrário dos estudos já realizados com roedores da região temperada. “O estudo também discute a estratégia reprodutiva dos marsupiais neotropicais. As estratégias de reprodução dos marsupiais australianos já são muito bem descritas, enquanto ainda há muito a aprender sobre a reprodução das espécies neotropicais”, pontua a pesquisadora.

Com o agregado de informações obtidas por meio da pesquisa, é possível inferir que a análise fornece bases para elaboração de protocolos de captura de animais mais eficientes. A aplicação de critérios para determinação do nível de risco de extinção considera que vários pequenos mamíferos possuem dados insuficientes para uma categorização, de forma que uma avaliação mais efetiva das ameaças depende da ampliação desse conhecimento, o que deve ser considerado parte fundamental para o monitoramento da situação ambiental no país. “Acredito que o conhecimento produzido por este trabalho certamente contribuirá para futuras pesquisas e formulação de planos de manejo e conservação de espécies ameaçadas”, afirma Camila.

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