Práticas de gestão adotadas em outros setores podem ser perfeitamente adaptadas e aplicadas na gestão do setor de saúde, apesar deste possuir uma clara individualidade. Foi a partir dessa ideia inicial que Claudio Colucci, doutor pela Faculdade de Medicina da USP, passou a pesquisar a respeito das estratégias e práticas adotadas em hospitais privados brasileiros.
Para a realização do estudo, foram analisados cinco hospitais. Três sendo privados e sem fins lucrativos, que atendem principalmente beneficiários de seguros e planos de saúde. Para fazer o contraponto, juntou-se ao estudo um hospital privado com fins lucrativo e que atende principalmente beneficiários de seguros e planos de saúde. O outro caso, um hospital privado sem fins lucrativos, e que atende principalmente usuários do SUS, o que significa clientes diferentes. Após selecionados os hospitais, trabalhou-se dois instrumentos de pesquisa. Em um primeiro momento foi feita a caracterização geral sobre os hospitais, ou seja, infraestrutura, serviços, e nível de complexidade na assistência. O segundo ponto é feito a partir de analises de entrevistas individuais realizadas principalmente com diretores, com atuação na área administrativa e outros na área assistencial.
A primeira conclusão foi de que há outros fatores que influenciam as estratégias, além das diferenças de clientes e de propriedade (com ou sem fins lucrativos), dentre os quais: a posição do hospital em relação aos demais (ser maior, ou menor), a cultura, o modelo de governança corporativa, recursos e capacidades, porte e perfil dos líderes. “As estratégias são desenvolvidas a partir da combinação de avaliações do ambiente externo e do ambiente interno. Ainda que não seja possível afirmar que em todos eles as estratégias sejam desenvolvidas de maneira analítica, deliberada, por vezes, parecem ações baseadas principalmente na intuição”, diz Colucci.
Os três hospitais privados e sem fins lucrativos apresentaram alta densidade tecnológica e de atendimento aos casos de maior complexidade, além de possuírem uma cultura que dá importância a uma contínua inovação tecnológica. O hospital privado com fins lucrativos, por sua vez, apresenta uma situação intermediária na densidade em tecnologia e no atendimento aos casos de maior complexidade. “Neste caso, destacam-se a gestão horizontalizada, a gestão de pessoas e a motivação para fazer mais com menos”, afirma Colucci. O último, que atende prioritariamente usuários do SUS, apresenta baixa densidade em tecnologia e nos casos de maior complexidade. Para Colucci, esse se destaca pelo idealismo, o atendimento aberto e universal e os custos operacionais competitivos.
Para Colucci, o setor da saúde deverá passar por importantes mudanças. O pesquisador diz ser importante assegurar a competição de mercado e, ao mesmo tempo, os direitos dos clientes. Em função das inovações tecnológicas, mudanças demográficas, envelhecimento da população e crescimento das condições crônicas, frutos da maior expectativa da vida da população, os custos do setor tendem a ser cada vez mais altos. “Em algum momento, as contas poderão não fechar, representando um risco para a população e para as organizações do setor”, afirma o doutor. Deve se buscar uma maior cooperação das organizações de saúde, através do verdadeiro funcionamento de redes que busquem, simultaneamente, uma melhor qualidade, a custos competitivos e viável para as pessoas, além de atendimento em qualquer estágio da vida, evitando o risco da falta de acesso com o envelhecimento.
Para Colucci fica claro que cada vez mais será importante um olhar para soluções totais e serviços em todos os estágios de vida e cadeia de valor da saúde, através da promoção de saúde, prevenção de doenças, diagnóstico, tratamento, reabilitação, monitoramento e gerenciamento de condições crônicas. É preciso que as organizações aprimorem a sua gestão estratégica, e essa é uma necessidade tanto do setor público quanto do setor privado. “Não basta apenas dar mais recursos ao setor, apesar de ser uma necessidade, é fundamental a melhor gestão e uso dos recursos. O sucesso até o momento não assegura o sucesso futuro”, alerta.