Entre 1945 e 1980, o padrão de inserção internacional da economia brasileira sofreu grandes transformações. Para isso, o Estado brasileiro exerceu um papel fundamental, principalmente por meio de suas políticas econômica e externa. É o que constatou Magda Chang em sua dissertação de mestrado O padrão de inserção internacional da economia brasileira entre 1945 e 1980, defendida no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB).
Durante esse período, o país se consolidou como semiperiferia industrializada, deixando de ser uma economia essencialmente agroexportadora da periferia, apesar de “ainda subdesenvolvida e vinculada aos centros de dinamismo capitalista internacional, principalmente por laços de dependência financeira e tecnológica”, como explica Magda.
Nesse âmbito, o Estado brasileiro teve um papel fundamental, tanto na adaptação do país à situação externa quanto no preparo para enfrentar os desafios do sistema internacional que historicamente condicionaram o desenvolvimento da economia nacional. No entanto, segundo a pesquisadora, “as ações da política econômica e da política externa nem sempre foram complementares ou coerentes entre si”. Para ela, isso acabou determinando diferentes capacidades do Estado para alterar ou moderar a condição da economia brasileira no sistema internacional.
Assim, para avaliar como se deu essa interação entre os dois eixos de atuação do Estado — a política econômica e a política externa — bem como os seus resultados, Magda propôs o conceito de política de inserção internacional da economia brasileira (Piieb). Segundo ela, o Piieb consiste em toda ação ou projeto desenvolvido e implementado por agentes governamentais com vistas a produzir algum efeito na inserção internacional da economia brasileira, sempre considerando os dois eixos de atuação.
Para tanto, o período estudado foi dividido em seis momentos: Dutra, segundo governo Vargas, Juscelino Kubistchek, Jânio Quadros e João Goulart, Castelo Branco e, por fim, Costa e Silva-Médici-Geisel. “Em termos de uma gradação entre dois extremos — a autonomia e a dependência —, o Piieb a cada momento contribuiu para uma redefinição tanto dos elementos de autonomia quanto de dependência da economia brasileira”, afirma Magda. Ela diz que houve uma oscilação entre os dois extremos, como um pêndulo, porém, sem nunca alcançar efetivamente a total dependência ou a total autonomia.
No entanto, apesar das oscilações, Magda afirma que “o movimento total do período foi em direção a um ganho de autonomia”. Portanto, por meio de suas políticas econômica e externa, o Estado brasileiro constituiu “um elemento de ligação que modulou os impulsos transformadores provenientes da economia-mundo capitalista às necessidades de desenvolvimento e ganho de autonomia nacional”.