O envolvimento do escritor brasileiro Monteiro Lobato com a questão da formação nacional nas primeiras décadas do século 20 foi objeto de estudo de André Fróes em sua pesquisa de mestrado, realizada no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), intitulada Do urupê de pau podre à maquinização — Monteiro Lobato e a formação nacional. Naquele período, mesmo com a existência do Estado nacional há um século, era comum a percepção de que o Brasil ainda não havia se constituído definitivamente como nação.
“Uma parcela dos homens de letras, entre eles Lobato, se incluía entre aqueles que tomavam a construção nacional como uma tarefa que lhes cabia”, afirma Fróes. O pesquisador diz que, de fato, Lobato dedicou toda a sua vida a tal questão, vista pelo escritor como uma malformação.
Ele afirma que nos anos em que o escritor se dedicou à literatura adulta, basicamente entre 1918 e 1925, é possível encontrar uma influência desse tema em diferentes níveis. Pode-se inclusive notar a colocação de uma nacionalidade de matiz paulista como fator que solucionaria a malformação nacional. “É neste sentido que essa produção lobatiana é denominada regionalista”, afirma Fróes.
No entanto, o pesquisador conta que essa literatura também explorava os limites e inviabilidades da formação nacional por meio de um “modo de formar trágico”, ou seja, fazendo uso de uma perspectiva trágica, expressa por dilemas e formas paradoxais. Por isso, de acordo com ele, “essa produção lobatiana pode ser considerada um tipo de elaboração literária da malformação nacional”.
Já no momento seguinte, após 1930, a questão passa a ser abordada da perspectiva econômica, e não cultural — ou seja, em termos do desenvolvimento precário das estruturas econômicas. Segundo Fróes, a partir disso “Lobato vai apostar no desenvolvimento da indústria nacional do petróleo, usando de seu capital simbólico acumulado durante a década anterior para alçar o óleo a questão nacional”. O escritor iniciou uma verdadeira campanha pelo país, chegando, inclusive, a dialogar com Getúlio Vargas, então presidente da República.
Para o pesquisador, a especificidade de Lobato em trabalhar com uma perspectiva trágica sobre a nação explica o motivo de justamente tal literatura lobatiana ter sido colocada à margem do cânon literário nacional. “Quando se fala em identidade nacional, Monteiro Lobato continua sendo uma incômoda presença. Esse incômodo é significativo sobre os caminhos optados e as possibilidades abortadas”, afirma.
Quanto à sua atuação nos anos 1930, quando se fala de petróleo, Monteiro Lobato estava entre as mais importantes figuras. No entanto, para Fróes ela ainda é pouco considerada. “Sua estratégia de conversão do capital simbólico em capital econômico e apoio para o petróleo não tem sido notada nas pesquisas sobre o tema”, afirma.