A relação entre os institutos de pesquisa e empresas sempre foi complexa e delicada. Não é raro haver um choque de opiniões e interesses entre cientistas e empresários. Em busca de entender e propor soluções para essa questão, uma pesquisa realizada na Faculdade de Economia e Administração (FEA) analisou a função dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NIT’s) e concluíu que sozinhos eles não conseguem desenvolver uma resolução.
A pesquisa foi conduzida por Cely Ades, professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie e teve como motivação a demanda de um pesquisador do Instituto Butantã sobre algo do tema. Segundo ela, o maior problema atual é a falta de atenção dada ao pesquisador em detrimento do empresário: “Nos eventos só se falam de patentes e termos jurídicos. Temos de abordar também os objetivos do pesquisador, que são diferentes dos da empresa”.
No Brasil, os NIT’s são regulamentados por lei e obrigatórios para se realizar a ponte entre o instituto de pesquisa e o mercado. Segundo o site do Senado Brasileiro, o país hoje conta com 94 NIT’s e possuí cerca de 60 em formação.
Com a lei que instituiu uma obrigatoriedade para esses núcleos, os institutos não precisam mais buscar por conta própria empresas interessadas em suas pesquisas. Infelizmente, como observado na pesquisa, isto não impediu totalmente que o pesquisador servisse de ponte nessa relação: “A maioria dos NIT’s ainda não tem toda a competência que demandam e isso acaba fazendo com que o pesquisador não consiga se focar no seus principais objetivos, que são a pesquisa. Ele não pode estar sozinho neste contato entre Instituto e empresa”, afirma.
Ainda segundo a pesquisadora, um dos problemas está na diferença de velocidade de trabalho de uma empresa de de um instituto de pesquisas. Se não estiverem em harmonia, maior a chance da haver conflitos de interesses entre as partes.
Cely defende que pensar na lógica dos modelos de negócio dos NIT’s é essencial para o seu bom funcionamento. Padronizar o formato dos núcleos é prejudicial para os institutos, que possuem estruturas, peculiaridades e características próprias. Quando um NIT falha no seu funcionamento, a tecnologia pode ser vendida de forma mal aproveitada e o consumidor pode recebê-la de forma inadequada (ou nem mesmo entrar em contato com ela): “É preciso pensar nos modelos, e não encaixotá-los em padrões definidos”.