A crise econômica mundial de 2008 deixou extensas marcas no mundo. Cada país afetado sofreu uma consequência diferente, dependendo de fatores econômicos macro e micro e de questões políticas. Na América Latina, o contágio financeiro para transações de risco foi alto, como constatou uma recente pesquisa realizada na Faculdade de Economia e Administração (FEA).
A tese em questão trata especificadamente do contágio financeiro da América Latina no mercado de ações e no de Credit Default Swap (CDS) principalmente em relação aos Estados Unidos, e foi desenvolvida pelo pesquisador Eduardo Augusto do Rosário Contani. O CDS é um instrumento financeiro arriscado utilizado por bancos europeus e americanos como proteção de inadimplência. Claudio Gradilone, editor de finanças da revista IstoÉ, define o CDS, no seu “Dicionário da crise”, da seguinte maneira: “Um banco que emprestou muito dinheiro para uma empresa recorre a outro banco e ‘troca’ (swap, em inglês) parte do seu direito de receber por uma garantia. O duro é descobrir que essa garantia também se evaporou”.
Segundo Contani, o período de crise eleva a correlação entre esses dois mercados: “O CDS aparece como um instrumento financeiro que emula, ao menos em parte, a percepção do risco de "default" de um determinado país”.
O “default” se caracteriza pelo descumprimento de alguma cláusula em um contrato entre devedor e credor. Qualquer modificação unilateral pode se classificar desta forma, também sendo considerada um calote. Países praticantes do “default” tem uma redução de suas notas de avaliação de risco e, consequentemente, perdem investidores.
O desenvolvimento da tese foi baseado em uma minuciosa análise de dados e testes de hipótese. O tema rendeu um convite para extensão dos trabalhos na Universidade de Columbia (em Nova Iorque, nos EUA).
Para Contani, a principal conclusão da tese foi a constatação de relação entre fatores regionais e globais neste contágio financeiro: “A principal conclusão da tese foi evidenciar a importância de fatores regionais e globais na existência de contágio financeiro em países da América Latina em relação ao mercado norte-americano, explorando as relações de interdependência entre os mercados de ações e de CDS. A distinção de risco pelo mercado ocorre de forma mais pronunciada em momentos de crise, conforme evidenciado no aumento de spreads de CDS soberano logo após a crise e pelo aumento da volatilidade nos mercados de ações.”
Todos os países da América Latina foram afetados de alguma forma, modificando apenas a forma de contágio. No mercado de CDS, por exemplo, isso ocorreu com mais força no Brasil, Chile, Colômbia e México. Ainda no Brasil, algumas correlações mostraram um contágio econômico pré-crise, com uma consequente diminuição no período seguinte à mesma.