A cooperação Sul-Sul entre Brasil e Moçambique na área de biocombustíveis possui interesses além da parceria entre países emergentes para o compartilhamento de conhecimento e desenvolvimento. Foi o que concluiu Tomé Fernando Bambo em sua dissertação de mestrado para o Instituto de Relações Internacionais (IRI) da Universidade de São Paulo.
Segundo a pesquisa, a cooperação do Brasil tem interesses mais amplos que vão além da solidariedade, como a abertura do mercado moçambiquenho para produtos, serviços e investimentos brasileiros, a preservação dos interesses nacionais, e também a busca de prestígio e apoio internacional para que o Brasil venha a ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
Além disso, a pesquisa também questiona os benefícios para Moçambique de uma parceria que fortalece a monocultura no país. A cooperação poderia reproduzir os prejuízos sociais e ambientais que esse tipo de agricultura traz para o Brasil. Entre os problemas observados estão o desmatamento, a produção de gases de efeito estufa e o abuso de agroquímicos.
Um dos maiores problemas, no entanto, são as características ligadas ao trabalho em canaviais. “A produção brasileira de etanol, por sua vez, pode ser a mais avançada do mundo, mas em Moçambique e noutros países do mundo não deve ser imitada a maneira como a cana-de-açúcar é produzida naquele país”, afirma Tomé. A indústria de açúcar apresenta um baixo número de postos de trabalho, muitos deles sazonais, e em condições precárias.
Segundo Tomé, a cooperação Brasil-Moçambique está longe de se tornar uma parceria solidária, desinteressada e igualitária, e pode vir a se tornar instrumento de troca para vantagens políticas e econômicas para o Brasil, criando uma nova forma de dependência Sul-Sul.