A popularização do esporte adaptado na mídia é necessária para que os jovens conheçam desde cedo as modalidades olímpicas adaptadas, e as pratiquem na escola, em clubes ou na academia. Isso é fundamental para que eles façam as atividades entre eles, seja de forma inclusiva, seja de forma profissional. Mais do que incentivar a prática do esporte em si, é preciso incentivar a idéia de que o deficiente não é incapacitado. A partir do momento em que se conscientizam as pessoas de que eles podem estudar, se exercitar, trabalhar, se divertir e exercer a cidadania, os preconceitos tendem a diminuir. Isso é fundamental não só para aumentar a integração deles, mas também para auxiliar no processo de aceitação dentre os que sofrem de deficiência adquirida. O esporte é essencial para essa tarefa, pois sua essência é a superação de limites e a quebra de paradigmas.
Um fator que favorece a divulgação é que o esporte paraolímpico no Brasil está em expansão, e nas últimas olimpíadas trouxe mais medalhas do que o esporte olímpico. Só nos Jogos Olímpicos 2012 o Brasil ficou em sétimo lugar, com 21 medalhas de ouro, 14 de prata e 8 de bronze, totalizando 43 medalhas. Isso é resultado de investimentos que o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) vem recebendo, e é notável a organização da entidade. Para se ter uma dimensão do planejamento, nas Olimpíadas de Sidney, por exemplo, só os atletas paralímpicos trouxeram medalhas de ouro — no quadro de medalhas se posicionou em 24º Lugar, conquistando 29 medalhas, sendo 6 de ouro, 10 de prata e 13 de bronze.
Maria Tereza Silveira Böhme, da Escola de Educação Física e Esporte da USP ressalta a importância da divulgação, pois o esporte competitivo serve como incentivo para conscientizar as pessoas de que existem formas de adaptação e de inclusão. De acordo com o Movimento Paralímpico Internacional, os atletas podem ser classificados em seis grupos: amputados, paralisados cerebrais, deficientes visuais, lesionados na medula espinhal, deficientes mentais, les autres (inclui todos os atletas com alguma deficiência de mobilidade e que não se enquadram nos demais grupos).
Existem esportes adaptados para todos esses grupos, mas faltam locais onde essas atividades possam ser desenvolvidas. Embora a inclusão seja obrigatória nas escolas, essa exigência não recai sobre clubes e academias, de forma que a maioria não possua equipamentos nem profissionais para receber deficientes. A professora também aponta a falta de investimentos públicos no setor.
Para os que realmente se encontraram no esporte e querem seguir como atletas, Böhme aponta que há investimentos no setor e hoje é possível que um atleta paralímpico tenha no esporte a sua principal renda, obtida basicamente de bolsas e patrocínios.
A trajetória dos grandes atletas
A professora comenta o caso de Allan Fontellis. Uma falha congênita não permitiu que suas pernas se desenvolvessem completamente e elas cresceram apenas até um pouco abaixo do joelho. Ele foi incluído na escola antes da lei e o professor sempre lhe incentivava a correr, mesmo usando próteses de madeira (popularmente chamado de “pernas de pau”). Ele participou de um projeto chamado Paraolimpíadas Escolares e foi selecionado, sendo então convidado para as competições de clubes. Assim, se tornou atleta do Comitê Paralímpico Brasileiro.
Sua primeira competição internacional foi no Campeonato Mundial de Jovens (até 17 anos) em New Jersey, Estados Unidos. Retornou para casa com os títulos de campeão mundial nas provas de 100m e 200m, além do bronze nos 400m. O sucesso internacional, porém foi obtido na China, com a medalha de prata no revezamento 4 x 100m, na Olimpíadas de Pequim.
Outro atleta que inspira muitas pessoas é Daniel Dias. Ele nasceu sem os pés e as mãos, mas nada desde os 16 anos. Hoje, é dono de cinco recordes mundiais na natação, quebrados no mundial da Holanda. O currículo tem ainda 19 ouros em Parapans e nas Olimpíadas de Londres ele saiu com seis ouros em seis provas individuais.