São Paulo (AUN - USP) - Já pensou poder ter acesso a livros colecionados no século XIX? Um projeto financiado pela Fapesp que une pesquisadores da USP, Unicamp e UFMG está viabilizando essa possibilidade. Com a compra de reproduções em microfilme da biblioteca pessoal do bibliófilo italiano Leopoldo Cicognara, o Projeto Biblioteca Cicognara poderá disponibilizar ao público grandes obras e tratados sobre arte.
Dentre os cinco mil volumes que pertenciam a biblioteca pessoal de Cicognara há raros tratados sobre a arquitetura, perspectiva, ótica, assim como guias de cidade e material arqueológico. Atualmente sob a custódia do Vaticano, há fontes, guias, manuais, tratados, desde o século XVI, invenção da imprensa, até o XIX, data de morte do colecionador.
Mas o trabalho não fica só na disponibilização do acervo. Alguns seminários foram feitos sobre o assunto e estudos estão sendo realizados. A pesquisa na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, encabeçada pelo professor Luciano Migliaccio, enfoca as transformações da tradição clássica na arte do Renascimento e a sua recepção em particular na cultura dos países ibéricos e nos seus domínios coloniais. Por outro lado, aborda o estudo das coleções de obras de arte italiana renascentista e barroca nas coleções brasileiras.
Espera-se que até o final do ano o projeto já esteja na Internet, num banco de imagens iconográficas.
Quem foi Cicognara
O italiano Leopoldo Cicognara, político, escritor de arte e colecionador de antiguidades de seu país, nasceu em Ferrara em 1767 e morreu em Veneza, em março de 1834. Ele tinha 30 anos quando a campanha de Bonaparte na Itália o pressionou para entrar na vida política. Um ardente defensor da República Cisalpina, foi membro do corpo legislativo de Milão, ministro de Turim e também conselheiro de estado, chegando até a cumprir missões diplomáticas. Aposentou-se aos 38 anos, com grande fortuna.
Mesmo vivendo em meio político, ele sempre se devotou às belas-artes. Acumulou conhecimentos sobre o assunto e cultivava amizades no meio. Cicognara tornou-se diretor da Academia de Belas Artes de Veneza até 1827. Foi nessa longa administração que um museu foi estabelecido. Ele ainda finalizou seus três volumes de história da escultura e também sobre os monumentos de Veneza.
O catálogo analítico “Catalogo ragionato del libri d’arte”, baseado nos livros de sua biblioteca, foi vendido ao papa em 1824 e ainda é um modelo de bibliografia. Após sua morte, os livros ficaram sob o comando do Vaticano.